por Hélio Schwartsman Folha de São Paulo
A decisão do STF de, vá lá, fatiar a operação Lava Jato me parece mais
uma oportunidade do que um convite à pizza. É claro que a dispersão das
investigações envolve riscos e quase certamente resultará em alguma
perda de eficiência, mas não podemos perder de vista o "big picture",
isto é, o quadro geral.
O único aspecto positivo da crise é que as instituições, em especial as
engrenagens da Justiça, estão se mostrando à altura da tarefa. Caso me
perguntassem, na virada do milênio, se eu achava que um dia veria
ex-ministros e dirigentes do partido no poder sendo condenados por
corrupção, minha resposta seria negativa.
Também apostaria que jamais assistiria a grandes empreiteiros sendo presos.
Teria perdido dinheiro.
Contar com uma Justiça que não se dobra em demasia ao poder político e
econômico de suspeitos e réus é um dos traços que distingue países
desenvolvidos de Estados mais bananeiros. É importante, porém, que os
eventos como os que eu acabei de descrever sejam fruto de uma cultura
institucional disseminada e não apenas de uma conjunção mais ou menos
fortuita de policiais, promotores e magistrados acima da média.
É nesse contexto que o fatiamento pode revelar-se uma oportunidade.
Operadores do direito que receberem agora algum braço da Lava Jato não
terão muito como escapar a uma comparação com o juiz Sergio Moro e os
procuradores de Curitiba.
Imagino que farão tudo para não aparecer na foto como procrastinadores
ou mesmo pizzaiolos. Se isso de fato ocorrer, uma pequena e benfazeja
revolução cultural terá se espalhado pelo normalmente fossilizado
Judiciário brasileiro.
Uma vez que os prejuízos à operação, embora potencialmente graves, não
são incontornáveis, penso que vale a pena tentar. A medida, de resto,
ajuda a afastar a narrativa paranoica segundo a qual tudo não passa de
uma perseguição das elites contra o governo amigo dos pobres.
extraídaderota2014blogspot
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