Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Doleiros usaram corretoras para remessas ilegais

APÓIO RODRIGO DELMASSO DEPUTADO DISTRITAL 19123

Testemunha que está negociando delação premiada detalha envolvimento de cinco empresas no esquema.

Mais um acordo de delação premiada em negociação na Operação Lava-Jato promete revelar detalhes de como os doleiros utilizavam corretoras para fazer remessas ilegais ao exterior. Luccas Pace Junior, braço-direito da doleira Nelma Kodama, afirmou em depoimento à Polícia Federal que os doleiros pagavam 2% a título de comissão a corretoras para fechar volumosas operações de dólar à vista para pagamento de importações fictícias...
Pace Junior apontou cinco corretoras que fecharam negócios com doleiros: TOV, Levycam, Guitta, Renova e Fair. Ele disse que 80% das operações feitas por meio de empresas de fachada a serviço de Nelma foram fechadas com a TOV. E a TOV não foi usada apenas por Nelma. A corretora teria ainda fechado operações no valor de R$ 283 milhões para empresas vinculadas ao esquema do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que sangrava obras da estatal.
A TOV afirma que a informação de Pace Junior é equivocada, pois o ganho da corretora na operação de câmbio à vista acontece apenas na taxa de dólar negociada com o cliente. No mercado financeiro, a informação é que as corretoras cobram também uma taxa de corretagem, que gira entre 0,18% e 0,20% do valor da operação. A advogada da TOV, Carla Domenico, afirmou que as documentações das empresas eram legais e idôneas e que, em nenhum momento, a corretora soube que alguma delas tinha vínculo com a doleira Nelma.
— Apenas depois de dois anos de investigação é que a Polícia Federal descobriu que as empresas estavam vinculadas a essa senhora. A TOV realizou todos os procedimentos dentro das normas de compliance — afirmou a advogada.
Nesta quinta-feira, Pace Junior começa a detalhar os termos da delação premiada com a Procuradoria Geral da República. Caso seja fechada a colaboração, até agora voluntária, ele poderá repassar informações que vão além do esquema da Petrobras e levam às operações da doleira. O centro dos negócios era no município de Santo André, no ABC paulista, onde o prefeito Celso Daniel, do PT, foi assassinado.
Era Pace Junior quem operava as remessas e determinava o destino do dinheiro colhido por Nelma. Também comandava o esquema de obtenção de empresas de fachada, que consistia em verificar empresas desativadas mas com cadastro ainda ativo na Junta Comercial e repassá-las a laranjas. Na lista de empresas usadas para remessas ilegais comandadas pela doleira estão Império Import, Da Vince, Eqmed, Greta Comercio e Confecções, Mesuma e Três Irmãs.
Outros investigados pela Lava-Jato também falaram sobre a TOV. O funcionário do Banco do Brasil Rinaldo Gonçalves Carvalho afirmou, em depoimento à Justiça, que a movimentação de uma das empresas, a Império, era expressiva e variava de R$ 600 mil a R$ 1 milhão por dia — algumas vezes, ultrapassava R$ 1 milhão. Segundo o bancário, o dinheiro entrava na conta da empresa no início da manhã e no meio da tarde era fechado o câmbio.
Normalmente, as operações entre empresas são feitas com transferências bancárias. Segundo Carvalho, a movimentação da Império para a TOV era feita por meio de cheques. “Eles levavam cheques para fazer transferência para uma empresa chamada TOV, que faz o fechamento de câmbio para eles. Então, entra o dinheiro de manhã e, no final do dia, eles levam os cheques para fechar o câmbio”, contou Carvalho à Justiça.
A advogada da TOV afirmou que normalmente as operações são feitas por transferência e que as informações já foram prestadas às autoridades.
As corretoras que operavam com Nelma também prestaram serviços para o doleiro Alberto Youssef. Uma delas foi a Levycam, que admitiu ter feito seis operações de câmbio, no valor total de US$ 800 mil, com a Labogen, usada por Youssef para remessas ilegais ao exterior. A Levycam afirmou que a Labogen apresentou toda a documentação cadastral da empresa e dos sócios exigida, inclusive com a comprovação de origem dos valores a serem investidos, e teve sua sede em Indaiatuba (SP) visitada. A corretora bloqueou operações de câmbio com a Labogen quando pediu as Declarações de Importações comprovando o efetivo desembaraço das mercadorias no território nacional e não recebeu. As corretoras Renova, Guitta e Fair foram procuradas pelo GLOBO, mas não retornaram.
Fonte: Por CLEIDE CARVALHO, O Globo 
FONTE BLOGDOSOMBRA

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