VOTO EM AÉCIO 45
Uma qualidade não se deve negar a Dilma Rousseff: é transparente. Não
por virtude, mas por falta de talento; não por convicção, mas por falta
de imaginação; não por apreço à verdade, mas por falta de discernimento.
A entrevista que ela concedeu na terça (23) –em que censurou os ataques
dos EUA e aliados às bases do Estado Islâmico– e o discurso feito na
abertura da Assembleia Geral da ONU, na quarta, em que reafirmou esse
ponto de vista, restarão como ilustrações da miséria sincera a que
chegou a política externa brasileira sob o petismo.
E olhem, se me permitem a digressão, que este que escreve nunca foi
vítima do "oba-obamismo". Ao contrário. O agora presidente dos EUA,
quando ainda candidato, já me parecia um faroleiro enfatuado, um
"poser", um produto mal-acabado do marketing. Se alguém tiver a
paciência de escarafunchar o meu blog, encontrará lá algumas antevisões
do desastre que este senhor provocaria no Oriente Médio e áreas
próximas. Sempre considerei que Obama ainda faria George W. Bush parecer
um homem sensato. Infelizmente, as minhas piores expectativas se
cumpriram.
O leitor que fizer a pesquisa irá constatar que nunca acreditei numa
"Primavera Árabe"; que sustentei que o Egito, sem Mubarak, se tornaria
ou uma tirania islâmica ou retornaria à ditadura militar; que, à queda
de Gaddafi, na Líbia, sobreviria o caos terrorista no Sahel; que flertar
com a deposição do carniceiro (claro que é!) Bashar al-Assad, na Síria,
abriria as portas do inferno.
Por razões várias, eu havia dedicado parte do meu tempo imberbe –numa
adesão extemporânea a Camus na briga com Sartre– à leitura sobre os
desastres que se sucederam ao fim do colonialismo francês na Argélia. A
democracia e a razão não caem da árvore da vida, como a lei da
gravidade. Esta, para existir, independe da nossa adesão a seus
fundamentos –maçãs continuarão a ser atraídas pelo chão. As outras duas
são construções valorativas. Existe um lugar para o indivíduo no Islã?
Então me mostrem! Fim da digressão.
Ainda que Dilma, então, fosse movida por um ceticismo prudente sobre a
eficácia dos ataques às bases terroristas do Estado Islâmico, outra
deveria ser a sua fala.
Criticar a ação militar em nome do "diálogo" ultrapassa a linha que
caracteriza a delinquência intelectual, política e moral. A presidente
conferiu o status de interlocutores aceitáveis a terroristas que adotam
como método de convencimento a degola, a crucificação e o estupro.
Com quem Dilma gostaria de dialogar? Ela se sentaria à mesa com o
"califa" Abu Bakr al-Baghdadi, um autoproclamado descendente do profeta
Maomé, criminoso contumaz que só está em liberdade em razão de um
imperdoável cochilo das forças americanas no Iraque, que o fizeram
prisioneiro em 2004 e depois o libertaram? Deve-se conferir a esse
facínora o status de chefe de Estado, de quem se espera e ao qual se
fazem concessões, como numa negociação convencional qualquer?
Enquanto Dilma discursava na ONU, um grupo ligado ao Estado Islâmico
divulgava um vídeo com uma nova decapitação –desta vez, na Argélia,
aquela mesma da minha juventude cética. Dilma é uma mulher convicta. Não
é do tipo que permite que os fatos conspurquem seus princípios.
FONTE BLOGDOJOSIAS
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