EU VOTO AÉCIO 45
Lula pronunciou um discurso inusitado na noite desta quarta-feira. Em
pleno comício de Alexandre Padilha, segundo as pesquisas uma derrota
esperando para acontecer, o oráculo do PT discorreu sobre um fiasco
eleitoral que o fez pensar em abandonar a política há 32 anos. “Eu perdi
a eleição de 82 para governador de São Paulo”, disse Lula, como se
desejasse consolar preventivamente Padilha. “Fiquei em quarto lugar.”
Responsável direto pela entrada de Padilha na refrega paulista, Lula
recordou que foi derrotado até mesmo na região do ABC, berço do
sindicalismo que o projetou nacionalmente. “Era impossível imaginar que o
povo de Santo André, São Bernardo, Diadema, Mauá e Riberião Pires fosse
votar num peão metalúrgico para governador do Estado. Mesmo assim, tive
1,250 milhão de votos.”
Virando-se para Padilha, Lula como que justificou a menção de um
infortúnio em evento que deveria servir para içar o candidato do PT das
profundezas dos seus 8% de intenções de votos. “Vou contar essa história
pra você saber que a gente nunca pode desistir”, lecionou Lula, antes
de dizer que, em 1982, ficou atrás de Franco Montoro, de Reinaldo de
Barros e até de Jânio Quadros.
“Eu pensei em desistir da política”, prosseguiu o patrono de Padilha.
“Em 1985, eu fui a Cuba. Tive a minha primeira conversa com Fidel
Castro. E o Fidel perguntou como estava a política no Brasil. Eu falei:
olha, Fidel, eu fundei um partido, fui candidato a governador, pensei
que trabalhador votava em trabalhador, pensei que eu ia ganhar as
eleições, porque a maioria do povo é trabalhador. Mas eu não ganhei. Só
tive 1,250 milhão de votos. Portanto, estou com a disposição de desistir
da política.”
Lula prosseguiu: “Aí, foi a primeira grande lição que eu tive na vida. O
Fidel falou assim pra mim: ‘ô, Lula, não existe na história da
humanidade nenhum operário metalúrgico que tenha obtido 1,250 milhão de
votos. Então, você deve agradecer aos trabalhadores de São Paulo. Eu
voltei pra casa animado.” Um ano depois da conversa com Fidel, Lula se
elegeria, em 1986, deputado constituinte.
No mesmo discurso em que deu lições sobre como metabolizar uma derrota,
Lula pediu votos para Padilha, terceiro colocado numa disputa liderada
pelo tucano Geraldo Alckmin, e para Eduardo Suplicy, que se engalfinha
com o também tucano José Serra por uma poltrona no Senado. Mas Lula
dedicou a maior parte de sua fala à disputa presidencial. A entrada da
ex-petista Marina Silva no tabuleiro tornou o jogo mais duro para Dilma
Rousseff.
A alturas tantas, Lula afirmou que conheceu Marina muito antes de Dilma.
“Sou amigo da Marina há 35 anos. A Dilma eu conheci bem depois.” Ambas
foram suas ministras. “Ora, por que eu não escolhi a Marina?”, indagou
Lula no comício, referindo-se à opção que fizera na sucessão de 2010.
Nesse ponto, o morubixaba do PT enfiou em sua prosa um comentário que
disse ter ouvido, horas antes, num ato político na cidade de Mauá. “Ô,
Lula, a Marina te ama.” Em tom de ironia, Lula emendou: “Eu falei pra
pessoa: eu também amo ela, mas escolher quem vai ser presidente não é
uma questão de amor, senão eu escolhia a Marisa”. Referia-se a Marisa
Letícia, sua mulher.
“Quando eu decidi escolher a Dilma e não companheiros que estavam comigo
há 30 anos no PT, era porque eu tinha aprendido a conhecer uma coisa da
Dilma.” Acabou citando duas coisas, não uma: “Competência e lealdade”.
Quanto à lealdade, não se discute. No que se refere à competência, parte
do eleitorado que votou em Dilma em 2010 parece informar por meio das
pesquisas que já não tem o mesmo grau de convencimento.
Por sorte, Fidel Castro, o imortal ditador cubano, permanece a postos.
Na eventualidade de arrostarem derrotas, os apadrinhados de Lula poderão
buscar em Havana uma motivação extra para perseverar na política.
FONTE BLOG DO JOSIAS
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