APÓIO AÉCIO NEVES PRESIDENTE 45
Paulo Roberto de Almeida
Eleições, todas elas, são, majoritariamente, um
retrato instantâneo da realidade em que se vive, e, num segundo plano, mas de
forma inconsciente ou minimizada, uma projeção utópica do futuro que se deseja.
Ou seja, se espera que políticos – mandatários ou representantes do povo –
possam fazer pelos seus eleitores aquilo que gostaríamos que eles fizessem por
nós, todos nós. Trata-se, portanto, de um reflexo da conjuntura em que se vive
e de uma esperança depositada num cenário prospectivo, que se imagina ser
melhor do que o atual.
Os militantes da causa, e os true believers (existe certa identidade entre as duas categorias),
votam pelos chefes, pelas palavras de ordem que lhes são passadas e que eles
incutem como obrigação pessoal, quaisquer que sejam a dita conjuntura e os
cenários prospectivos que eles possam traçar individualmente: eles são
obedientes e determinados, mas também são poucos, no conjunto dos eleitores e
sozinhos não poderiam determinar um resultado eleitoral, a não ser
marginalmente, ou em circunstâncias excepcionais. Na maior parte das vezes,
eleições são o resultado da expressão majoritária de eleitores comuns, cidadãos
trabalhadores, pessoas simples, que sempre fazem algum tipo de cálculo quanto à
melhor representação de seus interesses.
Eleitores, em geral, mesmo os mais ignorantes e
deseducados politicamente, votam de acordo com os seus interesses materiais,
não de acordo com crenças abstratas, salvo aquela minoria de militantes
disciplinados e de true believers, já
mencionados.
A massa dos eleitores brasileiros é constituída por
pessoas da baixa classe média e dos chamados estratos populares, ou seja,
pessoas e famílias com renda não superior a 2,5 salários mínimos, que compram
quase tudo pelo famoso sistema dos “dez vezes sem juros”, e que possuem uma
educação elementar, talvez rústica, para empregar uma palavra neutra. Muitos
integram aqueles analfabetos funcionais de que falam algumas pesquisas sobre a
capacidade de leitura e compreensão (mínimas) de grande parte da população
adulta (talvez mais de um terço). Mesmo os que completaram mais de um ciclo de
estudos, não internalizaram de verdade sua educação formal, e retiram a maior
parte de sua percepção do mundo dos meios audiovisuais de comunicação e de
informação, que são os canais abertos de massa, rádios populares e,
crescentemente, a internet. Todos eles possuem celulares, mesmo camponeses e
garis de rua, e todos eles possuem uma compreensão razoável do que seja um
político: um sujeito que está ali para tirar vantagens pessoais a cada quatro
anos, mas que pode, eventualmente, trazer algum benefício ao eleitor e à sua
família, geralmente um emprego no Estado, o asfalto, a iluminação pública, a
saúde, a segurança.
Eleições são momentos de acordos tácitos entre os
candidatos e os eleitores, os primeiros mentindo desbragadamente, os segundos
fingindo que acreditam, mas esperando tirar mais vantagens do candidato A do
que do candidato B.
As eleições brasileiras de 2014 não serão
diferentes na forma e nas modalidades de suas predecessoras, com a distinção
atual de que o partido hegemônico construiu uma formidável máquina eleitoral –
graças ao uso indiscriminado e inescrupuloso de recursos públicos, legal e
ilegalmente – e faz absoluta questão de continuar mantendo controle sobre o
poder, de uma forma ou de outra (e provavelmente mais de outra do que de uma).
Sendo um partido true believer, mas
especificamente neobolchevique e não religioso – ou religioso à sua maneira –,
ele acha que encarna os interesses populares, e que é o único capaz de
transformar o Brasil à sua imagem e semelhança. O que seria isso?: idealmente,
uma sociedade igualitária, voltada para a promoção social e a inclusão dos mais
pobres na sociedade de consumo, junto com a limitação do que ele percebe serem
as perversidades econômicas e as iniquidades sociais naturalmente vinculadas ao
capitalismo. Eles acreditam sinceramente nisso, mas apenas os militantes da
causa, e esta é a sua legitimação política aos olhos de seus eleitores
potenciais.
Na prática, e de forma muito diferente da imagem
idealizada, os oligarcas que dominam o partido, com a ajuda de apparatchiks
profissionais – exatamente segundo o modelo bolchevique – constituem uma
associação voltada exclusivamente aos seus interesses pessoais, e que não
hesitam, e sobretudo não hesitarão, em usar quaisquer meios disponíveis para
preservar e aumentar esse poder de que dispõem atualmente. Nesse sentido, eles
correspondem etimologicamente ao que se poderia chamar de máfia, ou seja, uma
entidade inescrupulosa voltada para a defesa exclusiva dos interesses dos
oligarcas que a compõem, e para a expansão de sua riqueza e poder, de todos os
tipos.
De fato, seu comportamento é o de uma máfia, mas
que atua não exclusivamente pelo segredo e na clandestinidade, escondendo os
seus crimes (o que eles também fazem, sem nenhuma hesitação). Como partido
político, que é sua face mais visível, eles também atuam de forma aberta –
embora não desprezem os meios ilegais quando necessário, e em outras
circunstâncias também – e têm a missão de conquistar seus devotos mais fiéis,
como uma igreja de true believers,
enfim. Aparentemente, ele foram bem sucedidos, pois conseguiram criar um
formidável curral eleitoral que responde pelo nome de Bolsa Família. É isso que
torna estas eleições diferentes das precedentes.
O que está em jogo, portanto, nestas eleições, é a
continuidade da máfia no poder, ou uma alternância eleitoral, o que se afigura
difícil. A pequena educação política da população brasileira parece indicar que
a máfia será bem sucedida em seu projeto de continuidade do poder. É isto que
está em jogo em outubro de 2014.
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