PARA PRESIDENTE VOTE AÉCIO NEVES 45
O ESTADO DE S.PAULO -
ROLF KUNTZ
O
inferno é o outro, conforme escreveu há 70 anos um filósofo e
dramaturgo francês. A presidente Dilma Rousseff e seu ministro da
Fazenda, Guido Mantega, certamente concordam. Mas o outro, poderiam
acrescentar, tem lá seu valor. Sem ele, em quem jogar a culpa de nossos
males, especialmente daqueles produzidos por nós? Para isso servem as
potências estrangeiras, os bancos internacionais, os pessimistas de
todas as nacionalidades e até o Banco Central do Brasil (BC), por sua
insistência em manter os juros em 11%. Os maiores males deste momento
ainda estarão por aí quando começar o próximo governo, em janeiro:
1)
Os aumentos de preços ganharam impulso de novo. O IPCA-15, prévia da
inflação oficial de setembro, subiu 0,39%, muito mais que o dobro da
variação de agosto, 0,14%. A alta acumulada no ano, 4,72%, já ficou bem
acima da meta, 4,5%. Em 12 meses chegou a 6,62% e dificilmente ficará
abaixo de 6% no fim do ano.
2) Os economistas do mercado
financeiro e das consultorias continuam reduzindo as projeções de
crescimento econômico. A mediana das estimativas, na semana passada,
ficou em 0,33%, de acordo com pesquisa do Banco Central. Coincidiu com a
nova previsão divulgada pela Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE): 0,3%. O Fundo Monetário Internacional
(FMI) publicará números atualizados em outubro. A previsão para o Brasil
será, com certeza, bem menor que a de julho, 1,3%.
) As
finanças do governo continuam virando farelo. Nem receitas especiais têm
resolvido o problema. Pelas primeiras informações, a arrecadação
inicial do novo Refis, o refinanciamento de impostos em atraso, ficou
abaixo do valor previsto - algo na faixa de R$ 13 bilhões a R$ 14
bilhões. O pessoal do Tesouro deverá continuar recorrendo à criatividade
contábil. Qualquer balanço razoável no fim de 2014 será uma surpresa.
Mas o governo
brasileiro, especialmente em caso de reeleição, sempre poderá atribuir
parte dos problemas de 2015 ao Fed. O banco central americano foi
responsabilizado por males brasileiros quando inundou os mercados com
dólares, tentando estimular a economia dos Estados Unidos. A valorização
do real, uma das consequências, encareceu as exportações brasileiras e
barateou as importações. O ministro Mantega reclamou de uma guerra
cambial.
Desde o ano passado o jogo mudou. Ao anunciar a redução
dos estímulos monetários, o Fed mexeu nos fluxos de capitais, valorizou o
dólar e, segundo Brasília, criou pressões inflacionárias. O impacto da
mudança poderá ser mais forte no próximo ano, com o aumento dos juros.
Bendito seja o Fed, um dos culpados de sempre.
A presidente Dilma
Rousseff tem citado com insistência uma frase famosa de Nelson
Rodrigues sobre o complexo de vira-lata. Não se sabe quantas páginas da
obra rodriguiana ela realmente leu, mas a tal frase é importante no
repertório presidencial. Não se sabe, também, quantas páginas de Sartre
ela terá lido. Mas a ideia sartriana sobre inferno, reduzida a uma tosca
simplicidade, tem servido à retórica defensiva de um governo
fracassado. Benditos sejam os outros.
FONTE AVARANDABLOGSPOT
0 comments:
Postar um comentário