Aprovação a Dilma mostra que o Brasil "encherga" bem
( Por Guilherme Fiuza)
Há uma grita injustificada no caso
das provas semianalfabetas do Enem. Não dá para entender tanta indignação. Há
anos o governo popular vem preparando o Brasil para a grande revolução
educacional, pela qual a norma culta se norteará pelo português falado nas
assembleias do PT. Como se sabe, depois de uma blitz progressista da presidente
Dilma Rousseff e do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, livros didáticos
passaram a ensinar que é certo escrever “nós pega o peixe”, entre outras
formulações revolucionárias. Alguns especialistas teriam argumentado que o
certo seria “nós rouba o peixe”, mas isso já é discussão interna deles.
Numa das redações que levaram nota
máxima no Enem, o candidato escreveu “enchergar” – com “ch” em vez de “x”. Não
há reparo a fazer, está perfeito o critério. Depois de três anos deixando o
Enem à mercê dos picaretas, pois estava muito ocupado com sua agenda
eleitoreira, Haddad elegeu-se prefeito. Um fenômeno desses jamais aconteceria
num país que enxerga – só num país que “encherga”. Está corretíssima, portanto,
a observação por parte do estudante da nova norma culta.
Os que veem algum erro nisso não
sabem acompanhar as velozes mudanças da língua, comandadas pela nova elite. O
relato de Dilma Rousseff sobre seu encontro com o papa Francisco também
mereceria nota máxima no Enem. Contou a presidente: “Ele estava me ‘dizeno’ que
espera uma presença grande dos jovens (na Jornada da Juventude), na
medida em que ele é o primeiro papa, ele é várias coisas primeiro”. Os
corretores progressistas do Enem só dariam nota 1.000 a uma construção dessas
porque não existe 1.001.
O novo recorde de aprovação que
acaba de ser batido pelo governo e pela “presidenta” só comporta duas
explicações possíveis: ou o Brasil está “enchergando” bem, ou o Brasil está
“enchergano” bem. Qualquer das duas hipóteses, porém, garante imunidade total à
“presidenta” (que também é várias coisas primeira). Ela pode passear de
helicóptero sobre as enchentes de Petrópolis e depois pousar, como uma enviada
do Vaticano, para rezar pelas vítimas. Os desabrigados de dois anos atrás na
mesma região continuam sem as casas prometidas pelo governo popular. Há
famílias morando em estábulos. Alguns quilômetros serra abaixo, casas
oferecidas pelo governo popular para removidos de áreas de risco foram
inundadas pelas últimas chuvas. Moradias do programa Minha Casa Minha Vida
oferecem como bônus minhas goteiras, minhas rachaduras na parede.
O povo deve estar “enchergano” tudo
isso, porque acolhe o helicóptero de Dilma como um disco voador em missão
turística e reza com ela na igreja local, pedindo proteção a não se sabe
quem.
A aprovação popular ao estilo
governamental de Dilma é comovente. Quem distribui as verbas federais contra
enchentes é o ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho – aquele que
mandava cerca de 80% do dinheiro para Pernambuco, por acaso seu domicílio
eleitoral. As enxurradas podem levar casas e povoados inteiros, mas nada
arranca Bezerra do cargo. A cada nova intempérie, é ele quem surge para rechear
os comícios chorosos de Dilma com cifras voadoras, que servem basicamente para
drenar as manchetes. Ainda de Roma, a chefa suprema da nação declarara que
tomará “medidas drásticas” para remover os teimosos que insistem em morar em
áreas de risco. O Brasil merece isso tudo.
A população culta também está
“enchergano” bem. Todos chocadíssimos, batendo panela contra o pastor acusado
de homofobia – nomeado para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara
dos Deputados. Quem manda na Câmara? Quem fica caçando votos dos evangélicos,
distribuindo vantagens a seus líderes, como o famigerado Ministério da Pesca?
“Nós pega o peixe e entrega ao pastor”, reza a norma culta do governo popular.
Quanto maior o rebanho, melhor a boquinha. Comissão de Direitos Humanos é
troco.
Evidentemente, uma redação do Enem
que enxergasse, com “x”, que o Brasil e suas instituições estão emprenhados de
ignorância pela indústria do populismo levaria nota zero. A revolução petista
não tolera esses arroubos elitistas. Prefere receita de miojo.
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