Que se cuidem - - LUIZ GARCIA
Dilma corre o risco de ter anunciado um pacote de medidas talvez pesado demais para o seu governo
Até prefeitos dos mais modestos municípios do país sabem que, em momentos de crise — principalmente aqueles que sugerem erros e inação em suas administrações —, é preciso tomar iniciativas que convençam os cidadãos de que são capazes de ações corajosas e produtivas.
Foi o que fez em grande escala, a presidente Dilma Rousseff. Reuniu os 27 governadores e mais 26 prefeitos de capitais e anunciou iniciativas obviamente importantes. Nenhuma delas, curiosamente, fora anunciada, sequer mencionada de passagem, pelo Palácio do Planalto em momento algum de sua administração.
Ela propôs à plateia um pacto nacional em cinco áreas: responsabilidade fiscal, reforma política, saúde, educação e transportes públicos. E mais um plebiscito sobre a criação de uma assembleia constituinte destinada a fazer uma reforma política.
Também sugeriu uma iniciativa que jamais fez parte das preocupações de governos anteriores — nem do seu, até agora: que a corrupção de agentes do Estado seja incluída na categoria dos crimes hediondos. Finalmente, ela se lembrou dos acontecimentos que deram início à crise atual e prometeu medidas que melhorem os transportes públicos em geral.
Tudo isso parece ser realmente necessário. Inclusive a promessa de investimento pesado em transportes públicos — que não fez parte da pauta dos últimos governos. Nem no da própria Dilma, até a inédita crise atual, em que a ação de baderneiros produziu manifestações de cidadãos honestos que ganharam as ruas, em Brasília e em diversos estados.
O que a presidente está fazendo — melhor dizendo, anunciando que vai fazer — é um pacote considerável.
Certamente, raras vezes um presidente prometeu tanto, de uma vez só. Dilma precisará de forte apoio dos partidos políticos e da opinião pública em geral. Ela tem a seu favor as imagens da reação popular nos últimos dias. Também corre o risco de ter anunciado um pacote de medidas talvez pesado demais para o seu governo, que, pelo que se viu nos últimos dias, não vive dias de alta popularidade. E é verdade que, terça-feira passada, ela teve de recuar de outra ideia sua, a convocação de uma assembleia constituinte específica que faria a reforma política. Ministros do Supremo Tribunal Federal e diversos juristas convenceram-na de que era melhor investir num plebiscito que garanta a participação da sociedade na escolha dos caminhos da reforma.
No fim das contas, a crise política, marcada por manifestações populares realmente espontâneas, terá seu destino definido pela reação dos mesmos cidadãos que saíram às ruas do país para manifestar sua decepção com os políticos que mandam no país em seu nome. O governo e os homens públicos em geral que se cuidem. A opinião pública está de olho.
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