Pés pelas mãos - HÉLIO SCHWARTSMAN
SÃO PAULO - Em espírito e intenções, até que a presidente Dilma Rousseff fez tudo certinho. Tentou dar conteúdo e direção a um movimento popular que ganhou o momento, mas não sabe para onde caminha. Quando se analisam as propostas concretas da mandatária, entretanto, fica a sensação de que ela entrou no clima das manifestações e resolveu agir sem pensar.
É verdade que a responsabilidade fiscal é importante para assegurar a estabilidade e os investimentos. Quem olha para uma defesa tão intransigente do ajuste das contas públicas jamais diria que ela partiu do governo que mais contribuiu para desequilibrá-las. Se há algo que caracteriza a administração Dilma até aqui foi ter apostado numa combinação de política econômica equivocada com contabilidade malandra que arruinou as expectativas. Mas nunca é tarde para se arrepender.
Para transportes, saúde e educação, a presidente saiu-se com um requentado de medidas que já tinham sido anunciadas e mais desonerações (o que vai contra o pacto fiscal, mas isso é detalhe). É bom que não tenha inventado pirotecnias, mas parece pouco para responder às ruas.
Foi justamente no ponto mais importante, o da reforma política, que Dilma meteu os pés pelas mãos. Ela deve ter lido em algum cartaz de manifestante a ideia de convocar uma constituinte exclusiva, juntou-a com o sempre popular plebiscito e criou uma proposta tão singular que não sobreviveu 24 horas. Foi detonada por juristas, políticos e, quero crer, por imperativos de realidade. Sob que regra os constituintes exclusivos seriam eleitos? O Congresso poderia aprovar PECs enquanto eles trabalhassem? E quanto a uma PEC com conteúdo contrário ao que tenha sido definido pelos constituintes?
O fato de Dilma ter recuado, embora revele o nível de confusão que impera no governo, mostra que a presidente está disposta a ouvir e a buscar soluções negociadas --o que é bom.
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