Na muda - PAULA CESARINO COSTA
RIO DE JANEIRO - Era mais uma cena surpreendente dos tempos atuais. Noite de terça-feira. Moradores da Rocinha e do Vidigal (zona sul) ocupavam a av. Niemeyer, na hora do rush, em direção à casa do governador Sérgio Cabral (PMDB).
A polícia os acompanhou. Sem bombas nem balas de borracha. Os manifestantes se juntaram aos já acampados em frente à rua do governador, bloqueada pela PM.
"A Rocinha unida vai reivindicar seus direitos", gritaram. Mostraram que têm prioridades menos espetaculares e mais urgentes do que obras propostas por marketing eleitoral. "Teleférico pra quê?", questionaram, em referência à custosa obra do PAC 2, prevista para uma região em que valões escorrem cheios de esgoto.
Madrugada de segunda para terça. Moradores do Complexo da Maré (zona norte) esperavam cansados e assustados a hora de voltar para casa.
Viciados em crack e traficantes se aproveitaram de uma manifestação para fazer assaltos e escapar em meio a vielas sujas e mal iluminadas.
Policiais entraram na favela. Com caveirão, o blindado policial, e balas de fuzil. Dez pessoas morreram, entre elas um sargento do Bope. Moradores dizem ter havido truculência, abusos e tortura por parte da polícia, que alegou reagir a ataques.
A tropa policial no Rio está sob pressão. Acuada, acusada. Nas vielas das favelas e nas ruas do centro, não parece orientada a como agir e proteger cidadãos. Fotos e vídeos estão na rede escancarando o treinamento falho para conter multidões. Denúncias sobre abusos estão nas corregedorias esperando por apuração e punição.
A pressão das ruas teve efeitos rápidos e concretos. Os políticos ainda têm muito a responder e a trabalhar.
A segurança não é um detalhe no cotidiano do país. Falta colocar na agenda das ruas a reforma das polícias. Cidade muda não muda, escrevem alguns.
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