Protesto contra o protesto - ROGÉRIO GENTILE
SÃO PAULO - Depois que a polícia de Alckmin reagiu com absurda violência contra manifestantes, passou a ser politicamente incorreto reclamar de protestos. Mas, ainda assim, por que o direito de alguém se manifestar vale mais do que o de uma pessoa levar o filho para a escola ou simplesmente voltar para casa?
É evidente que, quando manifestações mobilizam multidões de 80 mil, 100 mil, 200 mil pessoas, como aconteceu na semana passada, o transtorno é compreensível e necessário. Avenidas importantes acabam mesmo tendo de ser fechadas e resta às autoridades tomar medidas para tentar atenuar o impacto disso na cidade, indicando desvios e rotas alternativas.
Mas, passado o tsunami de protestos, o que se vê em São Paulo é a multiplicação de pequenos atos com 100, 500, 1.000 pessoas. E o governo, acuado, mal tenta negociar a não obstrução das ruas. É justo que essas manifestações miúdas interrompam totalmente vias importantes, como ocorreu na Paulista ontem e anteontem, prejudicando centenas de milhares de pessoas?
Se a intenção é apenas melhorar o país, por que esses pequenos protestos não são realizados em áreas livres, como a praça da Sé ou o Anhangabaú, ou, vá lá, por que não ocupam só uma faixa de trânsito, de modo a não interromper totalmente a circulação?
Os grandes protestos mostraram que há um sentimento de insatisfação difuso na sociedade. Todo o mundo tem algum motivo para se indignar. Houve cartazes contra a Copa, por mais saúde, contra Dilma, contra Alckmin, contra a repressão policial, contra a corrupção, por tarifas menores, contra o deputado Feliciano etc. Houve até quem pedisse a saída do jogador Valdivia do Palmeiras.
De fato, são tantas as queixas que é possível reunir todos os dias grupos diferentes de 30 pessoas para fechar a Paulista no rush. É justo? Assim como a polícia precisa aprender a respeitar os manifestantes, os manifestantes precisam aprender a respeitar os demais cidadãos.
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