Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

PALMADAS, ABORTO E POLÍTICA

Nas últimas eleições presidenciais, o debate sobre o aborto surgiu espontaneamente no seio da sociedade. Sentindo o risco que isso seria para a eleição presidencial, o PT, defensor histórico e irrestrito do aborto, montou uma operação enorme para abafar o debate. Temiam o ocorrido nas eleições de 2006, quando a então candidata ao Senado pelo Rio de Janeiro, Jandira Feghali, favorita nas pesquisas com ampla margem, foi derrotada quando surgiu o tema do aborto - ela é favorável.

Em 2010, Dilma se disse cristã, "pessoalmente" contra o aborto, e se comprometeu a "não tomar medidas" para que a legislação pró-aborto avançasse, acusando adversários de "calúnia" e "difamação".

Na época, políticos ligados às religiões deixaram-se convencer e o próprio candidato de oposição foi tímido para explorar o eleitorado conservador. Se fosse mais ousado, veria que o movimento abortista não representa de forma alguma a opinião geral de brasileiros e brasileiras e poderia ter vencido as eleições.
Na verdade, não havia "calúnia" contra a agora presidente Dilma, e sim um fato notório e documentado que foi trazido à cena.
A prova cabal e irrefutável é que passados menos de dois anos das eleições presidenciais, temos uma autointitulada "avó do aborto" como ministra das mulheres.
O governo, em nova operação "abafa", convidou um senador ligado a Igreja Universal, para ser o ministro da Pesca.
Este terá como missão convencer a bancada evangélica de que o governo não está empenhado em defender o aborto. A simbologia da nomeação não poderia ser mais torta.
O peixe é um símbolo cristão e, na Bíblia, os cristãos aparecem como "pescadores de homens".
O PT possui diversos tentáculos e a Igreja Universal está para os evangélicos como a Teologia da Libertação está para os católicos. Resta saber se os líderes ligados às bancadas religiosas se deixarão ludibriar de novo, traindo seu eleitorado e tornando-se cúmplices do esquema.
Neste ano, veio à tona o anteprojeto para a mudança do Código Penal brasileiro da comissão de juristas do Senado.
O presidente do senado, José Sarney, rapidamente o transformou no projeto PLS 236/2012.   
O projeto de lei sugere explicitamente que a permissão do aborto seja ampliada para os casos de anencefalia ou quando o feto padecer de "graves e incuráveis anomalias que inviabilizem a vida independente" e por vontade da gestante até a 12ª semana de gravidez, se o médico ou o psicólogo "atestar" que a mulher "não apresenta condições de arcar com a maternidade".
Se o projeto original passar, o aborto pode ser realizado simplesmente porque as crianças são inconvenientes, seja economicamente ou psicologicamente.
Inclusive, admite-se a eugenia, ou seja, pode-se eliminar fetos com deficiências mentais, doenças graves ou imperfeições.
No Brasil, o mesmo governo que defende o aborto, é aquele que aprova a "Lei da Palmada", com o pretexto de "proteger" as crianças de seus pais.
Ou seja, se a mãe quiser dar uns tabefes no filho, não pode. Mas matar pode, desde que a criança ainda não tenha saído de seu útero. O anteprojeto defende ainda a diminuição da pena para infanticídio e a legalização da eutanásia, no que é coerente. Por que só eliminar pessoas inconvenientes no útero, não é mesmo?
É a legislação sob medida para legitimar o Estado totalitário.


(Artigo publicado originalmente no jornal Brasil Econômico, edição n. 646, ano 4, do dia 21 de março de 2012. Foi adaptado pelo autor para publicação no Mídia sem Máscara.)
 


Rodrigo Sias
é economista.

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