Os mensaleiros venceram
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Guilherme Fiuza
Pimentel,
com milionárias consultorias fantasmas, vendidas como amigo da presidente,
continua a viver de favor no Ministério.
O Brasil continua assistindo ao
julgamento do mensalão como um filme de época. O STF está prestes a dar as
sentenças, e o público aplaude a virada dessa página infeliz da nossa história,
quando a pátria dormia tão distraída etc. O problema é que a pátria continua
dormindo profundamente.
José Dirceu, o grande vilão, o homem que
vai em cana condenado pelo juiz negro, nesse duelo que faz os brasileiros
babarem de orgulho, não é um personagem do passado. Está, hoje mesmo, regendo o
PT no segundo turno das eleições municipais. Ainda é a principal cabeça do
partido que governa o país.
E o eleitorado não está nem aí. A
campanha de Fernando Haddad em São Paulo é quase uma brincadeira com o Brasil.
Um candidato inventado por essa cúpula petista que só pensa naquilo (se
pendurar no poder estatal) consegue uma liderança esmagadora no segundo turno.
O projeto parasitário de Dirceu, que tem Lula como padrinho e Dilma como
afilhada, pelo visto não vai sofrer um arranhão com a condenação no Supremo. O
eleitor não liga o nome à pessoa.
Fernando Haddad foi um sujeito
inexpressivo de boa aparência colocado no Ministério da Educação para fazer
política. Sua candidatura é a menina dos olhos de Lula, mais um plano esperto
dessa turma que descobriu que pode viver de palanque sem trabalhar.
O fenômeno Haddad conseguiu bagunçar a
vida dos vestibulandos por três anos seguidos, com erros primários no Enem,
típicos de inépcia e vagabundagem. Se fosse no Japão, o então ministro teria se
declarado humilhado e se retirado da vida pública. No Brasil, vira um “quadro”
forte da política.
Haddad fez com a pobre educação brasileira
o que o PT sempre faz no poder: marketing do oprimido. Defendeu livros
didáticos com erros de português, tentou bajular os gays com cartilhas
estúpidas, fez demagogia progressista com o sistema de cotas. Enquanto os
estudantes se esfolavam no Enem, ele estava nos comícios de Dilma para
presidente.
Tudo conforme a lógica mensaleira da
agremiação que governa o Brasil há dez anos: usar os mandatos para garimpar
votos e arrecadar fundos (para pagar os Dudas lá fora, o que o Supremo já disse
que está OK).
O ex-ministro Haddad é filho dos
mentores do mensalão, assim como os ministros do STF Ricardo Lewandowski e Dias
Toffoli. Nunca se viu espetáculo tão patético na esfera superior do Estado:
dois supostos juízes usando crachá partidário e obedecendo às ordens do
principal réu. Contando, ninguém acredita.
Esse sistema desinibido de prostituição
da democracia vai de vento em popa, porque a pátria-mãe tão distraída resolveu
acreditar que a vida melhorou porque Lula é (era) pobre e porque Dilma é
mulher. O Brasil não faz mais questão de nada: nem a entrega do “planejamento”
da infraestrutura à quadrilha Delta-Cachoeira comoveu os brasileiros.
O prefeito Eduardo Paes disse que o
Brasil está jogando fora a chance de se organizar, e o ministro dos Esportes
ficou zangado. A turma do maquinário detesta quando alguém lembra que eles não
trabalham. O ministro Aldo Rebelo é companheiro de partido do seu antecessor, o
inesquecível Orlando Silva, rei das ONGs. Nas mãos do PCdoB, o Ministério dos
Esportes estava aproveitando a Copa do Mundo no Brasil para montar seu
pé-de-meia companheiro — o que é absolutamente normal, dentro da ética
mensaleira.
Aí surgem as manchetes intrometidas e
Dilma tem que encenar a faxina, a contragosto, cobrindo de elogios o
companheiro decapitado e entregando a boca para um colega de partido. Assim é
em todo o primeiro escalão do governo, mas eles ficam muito chateados se alguém
lembra que esse esquema malandro não serve para organizar o país para uma Copa,
para uma Olimpíada ou para um futuro decente.
Enquanto a pátria continuar dormindo e
sonhando com o heroísmo de Joaquim Barbosa, a república mensaleira seguirá em
frente. Ninguém deu a menor bola para o escândalo denunciado pelo ex-ministro
do STF Sepúlveda Pertence.
Dilma Rousseff aproveitou o espetáculo
no Supremo e cortou a cabeça dos dois conselheiros “desobedientes” da Comissão
de Ética da Presidência. Marília Muricy e Fábio Coutinho ousaram reprovar a
conduta dos ministros companheiros Carlos Lupi e Fernando Pimentel. A
presidente teve que demitir Lupi, que transformara o Ministério do Trabalho
numa ação entre amigos do PDT — partido que o demitido continua comandando, em
apoio ao governo popular.
Mas Pimentel, com suas milionárias
consultorias fantasmas, vendidas graças aos seus belos olhos de amigo da
presidente, continua vivendo de favor no Ministério do Desenvolvimento.
Um dia já houve a expectativa de que
Marcos Valério, uma vez apanhado, abriria o bico. Hoje o bico de Valério não
vale mais um centavo. O golpe já foi revelado, e a real academia mensaleira
continua comandando a política brasileira. Testada e aprovada pelo povo.
GUILHERME FIÚZA é escritor.
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