Jornalista Andrade Junior

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

FACULDADES DEMAIS

A educação primária e secundária está em frangalhos. Faculdades estão cada vez mais em declínio acadêmico na medida em que se esforçam para tornar os ambientes confortáveis para o educacionalmente incompetente.

Na tradicional declaração “State of the Union” de 2012, o presidente Barack Obama disse que "o ensino superior não pode ser um luxo. É um imperativo econômico que cada família na América deve ser capaz de suportar". Essa conversa marca pontos em política, mas não há nenhuma evidência de que a educação universitária seja um imperativo econômico. Uma boa parte do nosso problema maior da educação, explicando o seu custo crescente, é que uma grande porcentagem de alunos cursando faculdade é despreparada e incapaz de fazer o verdadeiro trabalho de faculdade. Eles não deveriam estar lá desperdiçando seus próprios recursos, os de suas famílias e dos contribuintes. Vamos dar uma olhada nisto.

Robert Samuelson, em seu artigo do Washington Post ‘É hora de largar cruzada da faculdade para todos’ (27/05/2012), disse que "a cruzada da faculdade para todos perdeu sua validade. Hora de jogá-la fora. Como a cruzada para fazer todos os norte-americanos donos da casa própria, ela agora está fazendo mais mal do que bem".

Richard Vedder – professor de economia da Universidade de Ohio, pesquisador adjunto do American Enterprise Institute e diretor do The Center for College Affordability & Productivity (Centro para a Acessibilidade e Produtividade Universitária), ou CCAP - em seu artigo "Fosso... A Cruzada da faculdade para todos", publicado no blog Innovations (7/6/2012) do The Chronicle of Higher Education, aponta que "o Ministério de Trabalho dos EUA diz que a maioria dos novos empregos nos EUA durante a próxima década não demandam um diploma universitário. Temos centenas de milhares de zeladores diplomados nos EUA".

Outro ensaio de Vedder e seus colegas da CCAP, intitulado "De Wall Street para o Wal-Mart", relata que há "um terço de milhão de garçons e garçonetes com nível universitário". Mais de um terço dos recém-formados que trabalham atualmente estão em empregos que não exigem um diploma, como comissários de bordo, motoristas de táxi e vendedores. Foi sábio usar o tempo dos estudantes e recursos dos pais e contribuintes para financiar a faculdade?
Há um estudo recente publicado pelo Raleigh, N.C. do Pope Center[1] intitulado "Financiamento estudantil [2]: Para onde vai todo o dinheiro?". Os autores Jenna Ashley Robinson e Duke Cheston relatam que cerca de 60% dos alunos de graduação [3] no país são destinatários do financiamento estudantil, e em algumas faculdades, mais de 80% o são. O financiamento estudantil é a maior despesa do Departamento de Educação, totalizando quase US$ 42 bilhões em 2012.
O foco original do financiamento estudantil era facilitar o acesso à universidade para estudantes de baixa renda. Desde 1972, quando o programa começou, o número de estudantes do menor quartil de renda que vai para a faculdade aumentou mais de 50%. No entanto, Robinson e Cheston relatam que o percentual de alunos de baixa renda que concluíram a faculdade aos 24 anos diminuiu de 21,9% em 1972 para 19,9% hoje.
Richard Arum e Josipa Roksa, autores de "Academically Adrift: Limited Learning on College Campus” (2011), relatam sua análise de mais de 2.300 alunos de graduação em 24 instituições. Quarenta e cinco por cento desses estudantes não demonstraram melhora significativa numa série de habilidades - incluindo o pensamento crítico, raciocínio complexo e escrita - durante os dois primeiros anos de faculdade.
Citando a pesquisa do livro "Real Education" (2008) do estudioso Charles Murray da AEI[4], o professor Vedder diz: "O número dos que vão para a faculdade excede o número dos capazes de galgar níveis mais elevados de investigação intelectual. Isto leva faculdades a alterar a sua missão, diluindo o conteúdo intelectual do que fazem". Até 45% dos calouros recém-chegados exigem cursos de nivelamento em matemática, leitura ou escrita. Isso apesar do fato de que as faculdades têm idiotizado os cursos para que os alunos admitidos possam ser aprovados. Vamos encarar os fatos: como Murray argumenta, apenas uma pequena proporção de nossa população tem as habilidades cognitivas, disciplina, direção, maturidade e integridade para dominar verdadeiramente a educação superior.
A educação primária e secundária está em frangalhos. Faculdades estão cada vez mais em declínio acadêmico na medida em que se esforçam para tornar os ambientes confortáveis para o educacionalmente incompetente. Faculdades devem recusar a admissão de alunos que não estão preparados para fazer um verdadeiro trabalho faculdade. Isso não só ajuda a revelar a educação primária e secundária de má qualidade, mas também reduz o número de jovens que fazem escolhas de carreira insensatas. Infelizmente, isso não vai acontecer. Administradores universitários querem carne fresca para obter dinheiro.


Notas:
[1] Refere-se à organização John William Pope Center for Higher Educacion Policy.
[2] NT: A expressão original é Pell Grants. Trata-se do programa de crédito universitário do EUA. Seu correspondente no Brasil seria o Fundo de Financiamento Estudantil – FIES. Note-se que não há universidades gratuitas nos EUA. Mesmo as universidades públicas cobram anuidades, embora geralmente mais baratas que as universidades particulares.
[3] NT: O termo original é undergraduation, que se refere ao primeiro degrau na titulação universitária. A graduation refere-se à pós-graduação imediata. Alguns cursos só podem ser cursados no nível de graduation, como é o caso do curso de Direito, exigindo, portanto, uma formação universitária anterior a título de undergraduation.
[4] NT: American Enterprise Institute for Public Policy Research.


Walter Williams
é professor de Economia na Universidade George Mason.
Tradução: Daniel Antonio de Aquino Neto

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