Recebi o artigo abaixo por e-mail de um amigo leitor do blog. claro que tenho que dividir com os amigos leitores
Dias de ira
J.R. Guzzo
(Veja 24/10/2012)
|
“São vítimas bem estranhas, essas que
Lula representa: se estão no governo federal e mandam em quase
tudo neste país, como podem se colocar no papel de perseguidos?”
Com o
julgamento do mensalão a caminho da sua fase final no STF, é realmente
notável a extrema dificuldade, por parte dos condenados e de quem os apoia,
de entender que precisam obedecer ao Código Penal quando estão
no governo. Mudar o nome do cachorro não muda o seu
temperamento, como todo mundo sabe; mas o PT e suas brigadas acham que,
chamando de “vingança" o que é apenas sua derrota diante da Justiça,
podem anular a realidade. Tudo o que têm a dizer, desde que a casa caiu, é:
“Seja lá o que tenha acontecido, a culpa não é nossa: se a Justiça achou o
contrário, é porque se aliou aos nossos inimigos”. Fim da argumentação. Essa
tentativa de colocar-se acima da lógica é ao mesmo tempo tola e inútil.
Não
consegue, simplesmente, mudar o que já aconteceu, mesmo com a
turbinagem que vem recebendo de três homens que estiveram na linha de frente
da política brasileira nos últimos 25 anos: o ex-presidente Lula, o
ex-ministro José Dirceu e o presidente do PT na época do mensalão, José
Genoino. Tudo o que conseguiram foi exibir à luz do sol o que cada um tem de
verdade, dentro de si — e o que mostraram não os recomenda, nem como
pessoas nem como homens públicos.
O
remorso, como se diz, sempre vem na hora errada — aparece depois da
tentação, quando não serve mais para evitar o pecado. No caso do mensalão,
para o PT e os seus grão-duques, o remorso não veio nem antes nem depois. Não
há, após tudo o que foi provado na suprema corte de Justiça do país, o menor
vestígio de arrependimento; ao contrário, os culpados vivem dias de ira.
Lula, quando a coisa toda estourou sete anos atrás, pediu desculpas “ao povo
brasileiro”. Hoje, com a própria pele salva, faz o papel do
indignado número 1 — na verdade, considera-se vítima, e acha que é ele,
agora, quem deve exigir desculpas. São vítimas bem estranhas, essas que Lula
representa: se estão no governo federal e mandam em quase tudo neste
país, como podem se colocar no papel de perseguidos? O ex-presidente,
cada vez mais convencido de que é uma combinação de mártir, profeta e
herói de si próprio, diz que sua biografia não será escrita pelos ministros
do STF. Tem razão. A biografia de Lula está sendo escrita por ele mesmo — os
atos que a contaminaram, do mensalão à aliança pública com Paulo Maluf,
um foragido da polícia internacional, são de sua exclusiva responsabilidade.
Um segundo
membro da suprema trindade petista, José Genoino, também optou por
romper como bom-senso em sua reação às condenações que recebeu. Alegou,
e alegaram em seu favor, que não poderia ser condenado porque tem uma vida
limpa; no seu entender, foi vitimado de modo “cruel” por “setores
reacionários” que controlariam “parcelas do Judiciário” e da imprensa. Mas o
que esteve em julgamento não foi a sua honestidade pessoal — foi o fato
concreto de ter colocado sua assinatura em documentos destinados a executar
uma fraude financeira envolvendo milhões de reais. Não foram os
“reacionários”, nem os jornalistas, que assinaram esses papéis; foi ele mesmo
— e se não sabia o que estava fazendo é porque não quis saber. Num conjunto
de dez juizes, levou de 9 a 1. Estariam todos errados? No seu caso ficou,
também, uma aula de ingratidão, quando comparou os jornalistas de hoje
aos torturadores de ontem. Genoino conheceu muito bem uns e outros, e sabe na
própria pele a diferença que existe entre eles; esqueceu, quando veio a
adversidade, quem sempre lhe estendeu a mão. Como é bem sabido, o líder
petista escreveu durante longo tempo uma coluna no jornal O Estado de S.
Paulo. Suas declarações sempre foram publicadas. Foi o político do PT mais
respeitado pela imprensa desde que voltou à política. No STF, além disso,
recebeu um tratamento de príncipe: a ministra Cármen Lúcia quase pediu
desculpas ao condená-lo. Por que, então, o rancor?
Ao terceiro
nome da trinca, José Dirceu, sobrou, além de uma condenação por 8 a 2, o
título de “guerreiro do povo brasileiro”, entoado pela tropa de choque que
precisa usar hoje para poder sair à rua. Que guerra teria sido essa? Pela
democracia certamente não foi. Sua guerra, na verdade, foi com o
deputado Roberto Jefferson, que mandou para o espaço o sistema de
corrupção montado no governo a partir de 2003. Ao entrar no jogo
bruto com ele, Dirceu se arriscou — e perdeu. “Sai daí, Zé”, ouviu
Jefferson lhe dizer, numa frase que ficará para sempre em sua biografia.
Saiu, rápido, e sem um único gesto de Lula para defendê-lo. Não foi
“linchado”,como diz desde sua condenação. Foi derrotado — só isso.
|
0 comments:
Postar um comentário