Virgindade
leiloada é como manter intercurso com uma bela e sedutora jovem já sem
vida. O corpo é ainda, mas sem vida não é mais.
Tem gosto para tudo. A imprensa deu destaque hoje à conclusão do leilão da virgindade de uma jovem brasileira, vencido por um japonês ao preço de R$ 1,5 milhão. Vale? Melhor dito: vale a pena?
Virgindade em tempos antigos tinha dois sentidos bem claros para a humanidade. Por um lado, era a garantia da paternidade, como ainda hoje se vê no caso dos casamentos da família real inglesa. O filho sabe do pai pela mãe, mesmo nos tempos de teste de DNA. A questão da sucessão do poder é crítica e a certeza da paternidade evita disputas e mesmo guerras civis. A outra, não menos importante, é que à virgindade estava associado o símbolo da pureza feminina. O sexo sempre esteve relacionado com a impureza, o pecado, a sujeira. A contenção dos instintos é o preço para a preservação da pureza.
Que pureza poderá haver em uma mulher que leiloa sua iniciação sexual pela internet? Nenhuma, obviamente. Que sentido reprodutivo? Nenhum também, pois que, desse conúbio, não brotará nenhum rebento. Aqui o intercurso sexual, quando houver, nos termos pactuados, não passará de uma macaquice, de uma imitação barata de coisas antigas para as quais a humanidade contemporânea perdeu a compreensão. No fundo, a suposta virgem está dando o famoso golpe do vigário, pois a virgindade física teria que ser contrapartida de uma pureza interior, traduzida em comportamento pudico. A casca é oca.
O leilão é a exata medida do abandono de qualquer resquício de pudicícia, é desonra, é opróbrio público antecipado pela redução da mulher à condição de uma prostituta vulgar. Ela mesma confessou que esta fazendo tudo por dinheiro, como qualquer prostituta faria. Nem é o caso de dizer aqui que o vício faz uma homenagem à virtude. O gesto é apenas parasitário de antigos símbolos e o ganhador do leilão é um tolo que compra gato por lebre e nada melhor tem a fazer com o seu dinheiro.
A virgindade, desprovida da seriedade dos símbolos de antigamente, não é apenas uma concha vazia, é ela mesma um inconveniente. Prefiro antes uma mulher madura, iniciada, que domina a arte de amar. Uma virgem – e supondo que esta virgem seja mesmo intacta – pouco ou nada sabe dos segredos necessários para uma mulher agradar a um homem. Iniciar uma mulher é sempre trabalho demorado e que pode trazer situações desagradáveis.
Virgindade leiloada é como manter intercurso com uma bela e sedutora jovem já sem vida. O corpo é ainda, mas sem vida não é mais. Leiloar virgindade é precisamente matar a mercadoria que se está a vender. O simples anúncio já a desvaloriza a uma condição invendável. O japonês, feliz comprador dessa falsificação, não tem ideia do tamanho do equívoco que está a cometer. Sinal dos tempos.
Mutatis mutandis, terá sido o mensalão o leilão da virgindade das vestais do PT? Daqueles que pregavam que tinham o monopólio da pureza e da virtude? Parece que sim, estamos diante de outra falsificação das falsificações. Defuntos desprovidos de almas, essas falsas vestais, verdadeiros vampiros das virtudes cívicas, se entregaram ao conúbio carnal da busca do poder vendendo pureza e entregando podridão.
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