editorial de O Globo
A prisão está longe de ser o fim da linha para os chefões do tráfico.
Todo mundo sabe que bandidos continuam a exercer suas atividades
criminosas de dentro das cadeias. Exemplos não faltam. Em setembro do
ano passado, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, comandou, da cela no
presídio federal de Porto Velho, em Rondônia, uma tentativa de invasão
da Rocinha. Mais de cem homens armados de fuzis subiram o morro com o
objetivo de derrubar Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, ex-aliado
de Nem que passou a controlar a venda de drogas na favela. A tomada de
poder não se concretizou, mas a ação violenta deixou marcas na
comunidade, dando início a uma guerra que persiste até hoje, com
incontável número de vítimas. Outro caso que veio a público foi o de
Fernandinho Beira-Mar, que, também de Porto Velho, gerenciava seus
negócios ilícitos em Duque de Caxias, na Baixada, como se livre
estivesse.
Está claro que, para exercer esse poder, bandidos contam com a ajuda de
alguns advogados, que fazem o papel dos chamados pombos-correio. Não se
trata de suposição. Como mostrou reportagem do GLOBO publicada no último
domingo, existem casos concretos de condenados ou denunciados por se
associarem aos clientes. Uma advogada que representa Beira-Mar disputa
com o próprio um terreno de 17 mil metros quadrados na Praia de Pipa, no
Rio Grande do Norte. Para o Ministério Público Federal (MPF), é uma
evidência de que ela atuou como laranja do traficante. Ela e o marido
são denunciados por lavagem de dinheiro e organização criminosa num
processo que corre em Rondônia.
Outros três representantes de Beira-Mar são acusados de crimes
semelhantes. Um outro criminalista responde a processo por compra de
armas e drogas no Paraguai destinadas à quadrilha. Todos eles mantêm
seus registros na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e continuam
atuando.
O entra e sai é flagrante. Basta analisar os números. De janeiro a maio
deste ano, quatro líderes de facções que cumprem pena em presídios
federais receberam 69 visitas de 24 diferentes advogados.
É evidente que essa romaria às cadeias tem objetivos outros que não o de
zelar pelos direitos do preso. Por isso, a questão tem de ser encarada
pelas autoridades. O ministro da Segurança, Raul Jungmann, defende que
as conversas entre clientes e advogados passem a ser gravadas e que,
havendo indícios de crime, sejam ouvidas por via judicial. A proposta
deve ser levada em conta. O importante é estabelecer regras para que
advogados de bandidos sejam apenas advogados.
extraídaderota2014blogspot
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