por Miguel Lucena
Conheci a máfia da moradia realizando investigações na Polícia Civil do Distrito Federal. O esquema criminoso age usando pessoas que não têm mais nada a perder e lucra com isso.
No Acampamento Dorothy Stang, em Sobradinho, quem não pagava as taxas que garantiam luxo aos coordenadores era expulso do barraco ou tinha a residência queimada. Traficantes de drogas ganhavam passe livre.
Após perceberem que coordenadores do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto estavam enriquecendo, os moradores resolveram criar uma associação legal e rasgar a bandeira da extorsão.
Em São Paulo, o incêndio em um prédio público ocupado pelos sem-teto motivou depoimentos reveladores: os moradores, mesmo sem condições, pagavam até R$ 400 aos coordenadores da ocupação, dirigentes de um movimento chamado Luta por Moradia.
A fachada de bons moços, preocupados com o drama social dos pobres, escondia uma máfia formada para lucrar com o desespero humano.
Que o episódio sirva de lição para que o Estado brasileiro deixe de ser leniente e conivente com o crime organizado, impedindo essa balbúrdia travestida de caridade que se instalou em grandes centros com o apoio da mídia e de quem não acredita que a opção pelas drogas, pela vida errante, pela fuga das responsabilidades familiares e pelo egoísmo individual seja uma escolha de cada um.
* Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.
** Publicado originalmente no Diário do Poder
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