Veja por Dora Kramer
O truque é antigo mas ainda funciona: o partido faz profissão de fé na
candidatura própria, lança um nome e fica ali (“comendo umas goiabas”,
na definição de uma amiga para compasso de espera) rondando a mesa de
negociações, no aguardo da abertura dos trabalhos de cooptação.
O PMDB faz isso há 24 anos, com sucesso. Perdeu feio as duas primeiras
eleições presidenciais pós-redemocratização (não obteve nem 5% dos votos
em ambas), mas esteve no domínio do Congresso, com bancadas
substantivas e ocupação de postos-chave, entre os quais a presidência
das duas casas legislativas, e consequentemente no controle de todos os
governos de lá para cá. Algumas vezes nos bastidores; outras em cena
aberta no palco.
A manobra se repete agora em versão ampliada, quando praticamente todas
as legendas enquadradas no campo do chamado centro à direita se preparam
para formar um grande bloco a fim de se manter no poder à revelia da
demanda da sociedade por renovação na política e independentemente de
quem venha a ser presidente. A ideia óbvia é fazer do(a) eleito(a) refém
da dita governabilidade e manter as coisas como sempre foram.
Todas as pré-candidaturas, assim chamadas ao modo de eufemismo, no DEM,
PP, PR, PRB, PTB, PSD, Solidariedade e companhia, cairão daqui até
meados de junho, quando começa a expirar o prazo (final em 15 de julho)
para a definição das candidaturas de fato. Talvez a exceção seja
justamente o MDB, agora devidamente autorizado a retomar a antiga sigla.
O presidente Michel Temer já assumiu a condição de factoide-mor da
estação e recuou, mas Henrique Meirelles pode ser mantido no páreo do
primeiro turno por honra (?) da firma. Além de não impedir negociações
outras, o ex-ministro da Fazenda financia a campanha com dinheiro
próprio e, assim, não dá despesa ao partido. Concorreria como uma
espécie de “café com leite” de luxo. Tudo depende do andamento das
tratativas.
O antenado leitor e a atenta leitora perguntariam se não seria mais
vantagem fazer esse leilão de cacifes concorrendo todos no primeiro
turno. São precavidos nossos rapazes e moças da política: dados a
dispersão partidária e o mau humor do eleitor, seria correr o risco de
ficar de fora do segundo turno. Não que isso impedisse uma composição
com alguém do campo adversário, que estaria, de qualquer forma,
submetido aos ditames da maioria parlamentar, digamos, centrista. Mas
daria mais trabalho, e esse pessoal sempre prefere ir direto ao ponto.
Nesse quadro estaria, então, decidido que, a despeito das mudanças nos
procedimentos de fiscalização e no anseio da população, não haveria
saída, ficaria tudo como está após as eleições? Numa leitura feita entre
o pessimismo e o realismo, provavelmente sim.
Não custa, contudo, ser otimista e acreditar que, a partir da
identificação desse tipo de operação engendrado pelas forças do atraso,
seja possível que os interessados no avanço trabalhem para mostrar ao
eleitorado que há como furar o cerco. Com o exercício do melhor voto
para o Parlamento, sem prejuízo do olho vivo no que tange à Presidência.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
0 comments:
Postar um comentário