Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 22 de maio de 2018

"Vitória fraudada isola ainda mais Maduro",

editorial de O Globo

O regime chavista e seu “Socialismo do Século XXI”, sob a condução de Nicolás Maduro, desde a morte de Hugo Chávez, em 2013, continuam a sua debacle. A nova etapa vencida neste processo de agonia da Venezuela, que se agrava, com desdobramentos imprevisíveis, foi a eleição do último domingo que manteve Maduro no poder, por mais seis anos, em meio a denúncias e evidências de fraudes. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), controlado pelo governo, como tudo na área pública, anunciou que Maduro obteve, com 92,6% das urnas apuradas, 5,8 milhões de votos (68%), contra 1,8 milhão do principal candidato oposicionista (Henri Falcón).

Desde a chegada do chavismo ao poder, em 1999, foi a mais baixa taxa de comparecimento às urnas, 46% — ou 30%, segundo a Frente Ampla, de oposição —, o que terminou aumentando o peso dos votos de cabresto: o governo instalou “pontos vermelhos” nas proximidades dos postos eleitorais, onde os beneficiários da assistência social, depois de votar, apresentavam suas carteiras de filiação aos programas e eram informados do número de celular para o qual enviar um SMS com seu voto. Um ou outro entrevistado não escondia que temia perder benefícios se não sufragasse Maduro. Tudo sob a vigilância da milícia e da Guarda Nacional Bolivarianas.

Já no domingo à tarde, os candidatos de oposição Henri Falcón e Javier Bertucci denunciavam irregularidades. Falcón, dissidência chavista, anunciara que não reconheceria o resultado — os partidos tradicionais de oposição ao chavismo pregaram abstenção. 

Ontem pela manhã, confirmado o resultado, veio o repúdio internacional.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, tachou o pleito de “farsa”, não o reconheceu, e foram pelo mesmo caminho os países do Grupo de Lima — Brasil, Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia. O repúdio também se espalhou pela Europa.

Missão da diplomacia, em especial do continente, com apoio americano e europeu, é tornar o menos pesado para a população o desenlace do regime, e que haja uma transição negociada para a democracia. A grande maioria dos venezuelanos já paga alto custo pela falência do chavismo: a hiperinflação chega a 14.000%, o bolívar venezuelano quase nada vale, a população migra para países vizinhos, como Colômbia e Brasil. Em 2016, a mortalidade infantil aumentou 30%. Deve ter piorado.


A etapa final do drama ganha velocidade com o desmantelamento da estrutura de produção de petróleo, que parece entrar em colapso. Sequer divisas, com o hidrocarbureto em alta, a Venezuela consegue captar. Enquanto isso, credores externos começam a arrestar bens da estatal PDVSA em outros países. Para completar o cenário do fim, falta a explicitação de alguma grave dissensão no grupo militar que sustenta Maduro.














































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