MIRANDA SÁ
“Uma palavra grosseira ensinou-me por vezes mais do que dez belas frases” (Diderot)
Não sou antropólogo, sequer estudioso de ciências e disciplinas relativas ao estudo do ser humano, mas palpiteiro. Acho que o dom da fala e a articulação das palavras representaram o maior salto civilizatório na História da Humanidade.
Somente pelas palavras o ser humano alcança a compreensão mútua. O conceito de “palavra” é abrangente e complexo, pois engloba variadas expressões linguísticas: fonologia, morfologia, sintaxe, semântica, etc.
Dicionarizado, o verbete “palavra” é um substantivo feminino, unidade da fala e da sua escrita, onde se situa entre espaços em branco. Seu conceito é “a manifestação verbal ou escrita para enunciar ideias ”.
Chegou à língua portuguesa através do latim, “parábola”, que por sua vez deriva do grego parabolé. No seu aspecto semântico tem diversos sentidos, como Vocábulo: termo, verbete; como Fala: discurso; como Declaração: afirmação; como Promessa: compromisso; como Doutrina: mandamento; como interjeição de veracidade: juro, prometo, sério, verdade.
No universo das representações mentais, das opiniões e até de divagações concretas ou abstratas. A palavra constitui o eixo do entendimento, quando preciso, o seu valor é único por que não há dois vocábulos iguais, e na sua equivalência pode perder o sentido.
Já escrevi uma vez que as palavras são como os seres viventes; nascem, se desenvolvem, amadurecem, se aposentam, adoecem, vão para a UTI, envelhecem e, mesmo incorporando a eternidade, saem de circulação…
Entre as palavras, estão os superlativos que minguaram no relacionamento, mas foram muito usados antigamente em cartas e nos ofícios, com Distintíssimo, Ilustríssimo e Excelentíssimo.
Atualmente a nossa gíria adota uns, como o que o nosso Lobão escreveu outro dia no Twitter, “A esquerda é cafonérrima”, que não está nos dicionários…
Desde menino trabalhei com as palavras. Até ensaiei escrever poesia como todos os jovens da minha época; entretanto, como jornalista, me limito aos textos objetivos, informativos e analíticos, procurando “a linguagem sem solenidade que permite pensar” como ensina Eduardo Galeano.
Na acepção semântica de promessa e compromisso, a palavra vale quase como uma obrigação, uma dívida que os políticos profissionais dão calote. A falta deste dever que deveria ser honrado com os seus eleitores, os ocupantes de cargos no Executivo e parlamentares negaceiam.
Com raríssimas exceções (aí vale o superlativo) a quebra de palavra no exercício da função pública deveria ser considerada crime de traição à sociedade. A nós, cidadãos e cidadãs, que não somos juízes, infelizmente não nos cabe julgar.
Todavia, para os políticos em geral, principalmente, repito, para os políticos profissionais, resta-nos o que os ancestrais chamavam “epítetos injuriosos” – o popular “palavrão” –, que alguns dicionários se recusam a dar a significação popular de xingamento, conceituando-o de “expressão pomposa e empolada”…
O Aurélio, porém, vai direto ao assunto: “palavra obscena”; e é o que merecem em certas circunstâncias aqueles que, na sua obscenidade, a palavra, como compromisso, perdeu o significado.
Antigamente mandar a pessoa para o inferno era uma expressão que feria o pudor; os pesquisadores encontraram n’ “O Mercador de Veneza” o único palavrão usado por Shakespeare: “Já vai tarde”… Acho que é em inglês antigo…
Hoje, os palavrões “vivem” nos porões do nosso inconsciente, mas para aliviar a nossa consciência devem ser dirigidos a todos que defendem o criminoso Lula da Silva, preso comum, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro…
extraídadapaginadomirandasá
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