por Ascânio Seleme O Globo
Para que serve uma empresa estatal? De
que adianta ao Estado brasileiro deter o controle da Petrobras? Se for
apenas para obter lucro, melhor privatizar. Depois desse colapso nas
estradas brasileiras, o argumento de que é importante manter sob o
controle do Estado setores estratégicos da economia não cola mais. Se o
governo não quer ou não consegue privatizar a Petrobras, e tampouco pode
usar seu poder regulador na empresa, que quebre seu monopólio no
refino, sua hegemonia na exploração e incentive a concorrência na
distribuição.
Se fosse um indivíduo, a
Petrobras sofreria de distúrbio bipolar. Durante os governos do PT foi
controlada com mão de ferro, vilipendiada e assaltada vergonhosamente.
Perdeu mais de US$ 150 bilhões em 13 anos. No governo do MDB, viu-se
absolutamente livre e fez o que bem entendeu, como se fosse uma empresa
cem por cento privada. Em 2017, voltou a lucrar na casa dos bilhões.
Nada contra o lucro, mas a Petrobras passou a viver o melhor dos mundos,
usufruindo os benefícios das empresas públicas e atuando com a
liberdade do setor privado.
O Brasil ficou parecido com a Venezuela nestes
últimos dias. Supermercados e farmácias racionaram artigos ou tiveram
estoques esgotados. Prateleiras vazias foram o segundo retrato da crise,
depois das estradas paradas. Hospitais tiveram dificuldade de se
abastecer de insumos e oxigênio. Não era falta ou pouco dinheiro no
bolso do comprador. Produtos ficaram retidos nas barreiras ou não
conseguiram ser escoados dos locais em que foram produzidos. Faltaram
hortaliças, carnes, ovos, remédios. Faltou água. E aqui, ao contrário da
Venezuela, também faltou combustível.
Se visto por outro ângulo, o
Brasil lembrou os tempos do Plano Cruzado do governo Sarney, quando o
congelamento forçado de preços fez sumir alimentos dos supermercados,
sobretudo proteína animal. E os aumentos da gasolina, que eram
anunciados à noite para valer a partir do dia seguinte, produziam filas
quilométricas de carros nos postos. Mas o que as prateleiras vazias e as
filas nos postos de hoje provaram de forma cabal é que somos um país
muito frágil.
Somos vulneráveis porque
o governo é fraco, imprevidente e parece não enxergar à frente. Era
claro que os preços dos combustíveis, sobretudo do óleo diesel, estavam
acima do suportável. Para o transporte de cargas era impeditivo. O
Brasil está superpovoado de caminhões graças ao crédito facilitado no
governo Dilma como instrumento para manter o crescimento da economia,
que não ocorreu. Com muito mais oferta do que procura, os caminhoneiros
perderam poder de negociação e não conseguem melhorar o valor do frete.
Nossa malha rodoviária é obsoleta porque
mais de 60% das cargas do país são transportadas por estradas. A opção
rodoviária brasileira jamais foi acompanhada de políticas adequadas para
o setor. Os últimos governos do Brasil, Sarney, Collor, Itamar, FH,
Lula, Dilma e Temer, nunca cuidaram das estradas do país e tampouco
investiram em ferrovias ou hidrovias para mudar o modal dos transportes
do país. Deu no que deu, nessa total dependência no óleo diesel.
A rodovia Presidente Dutra, a
estrada que une Rio a São Paulo, as duas maiores cidades do país e as
suas regiões metropolitanas, tem apenas quatro pistas, duas de cada
lado. Sem poder de barganha e com estradas fáceis de serem obstruídas,
como a Dutra, os caminhoneiros conseguiram uma mobilização inédita e
estão transferindo para o bolso de todos nós o custo do seu ofício.
Todos pagamos pelo combustível mais alto, agora vamos arcar também com a
redução dada aos caminhoneiros.
PODE PIORAR
O impacto do diesel na agricultura é tão grave ou até mais grave do que
no transporte de cargas. Um produtor rural distribuiu na internet um
vídeo em que calcula o custo do combustível na produção.
Para ele pagar os 57 litros de diesel usados pelo seu trator Massey
Ferguson 255, tem que vender 181 litros de leite, 41 dúzias de ovos ou
sete sacos de 50 quilos de milho. Vem mais encrenca por aí.
CARACA!
Por falar em desabastecimento, acabaram os horrendos engarrafamentos de trânsito que
fizeram história na capital venezuelana. Foram diminuindo aos poucos e
hoje quase não existem mais. Nem o preço baixíssimo da gasolina,
inteiramente subsidiada pelo governo, conseguiu superar o problema da
falta de produtos. O problema são as peças de carros que não chegam, e
quando chegam seus preços são impraticáveis. Quebrados, os carros
simplesmente param de circular. E o venezuelano ainda não tem a
expertise do cubano. Mas, calma, com mais 40 anos de bolivarismo eles
chegam lá.
O MELHOR DO MUNDO
O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, disse numa entrevista
ao Estúdio I, da Globo News, que o de Temer “é o melhor governo do país
por hora de mandato”. A declaração foi tão surpreendente que não coube qualquer reação.
TINDER ELEITORAL
Os principais assessores de Marina Silva procuram amigos para a
candidata. A solidão da sua candidatura preocupa os mais próximos. Estão
convencidos de que sozinha ela não vai a lugar nenhum.
E saíram a campo para buscar aliados em outros partidos. O sonho da
candidatura pura, diferente da velha política, está virando pesadelo. A
turma de Marina já procurou PHS, PV e PSB, além de nomes
suprapartidários como o de Cristovam Buarque.
BETTO TINHA RAZÃO
José Dirceu, enfim, deu o braço a torcer. Frei Betto tinha toda razão,
disse ele a amigos antes de voltar para a cadeia. O ex-ministro fazia
referência ao livro “A mosca azul”, em que o religioso e escritor dizia
que o grande erro do PT foi
o de não ter politizado o Brasil. O partido achou que podia fazer a sua
revolução usando os velhos truques da política nacional. Se deu mal.
POR BAIXO DOS PANOS
No esforço de mudar sua imagem radical e maquiar seu verdadeiro perfil
autoritário, o deputado e pré-candidato a presidente Jair Bolsonaro
disse que vai continuar atirando, mas agora com silenciador. Quer perigo
maior do que este? Significa, em bom português, que Bolsonaro vai dissimular, vai fazer uma coisa às claras e o seu inverso escondido. Perigo!
extraídaderota2014blogspot
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