Walter Brandimarte e Simone Iglesias, Bloomberg
Sérgio Moro, o juiz responsável pela Operação Lava-Jato há quatro anos, não consegue prever um prazo para o fim das investigações sobre o maior esquema de corrupção do Brasil, que já mandou vários empresários e políticos dos mais poderosos do país para a prisão. Moro disse em entrevista à Bloomberg em Nova York que a Lava-Jato é “imprevisível”, embora ache que a maior parte do seu trabalho esteja quase concluída.
O juiz de 45 anos já colocou atrás das grades a elite das empresas de construção do Brasil, vários executivos da Petrobras, ex-presidentes da Câmara, um senador no exercício do mandato, um ex-governador, e até mesmo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Casos de corrupção relacionados à Lava-Jato também permanecem nas mãos de outros juízes de outros estados, como Rio e Brasília, e com o Supremo Tribunal Federal, observou ele.
“A investigação não têm prazo de validade. Investigações criminais muitas vezes são imprevisíveis, dependem dos fatos”, disse o juiz. “Enquanto as evidências continuarem, continuaremos fazendo nosso trabalho. Como juízes e promotores, não temos uma opção.”
Watergate
Moro rejeita a ideia de que a incerteza resultante de uma investigação prolongada é prejudicial para a maior economia da América Latina, atualmente em recuperação depois de atravessar uma profunda recessão. Melhorar o Estado de direito, argumentou ele, trará resultados positivos a longo prazo para brasileiros e investidores estrangeiros.
“Os investidores devem pensar no quadro mais amplo”, disse ele, fazendo uma comparação com o escândalo de Watergate nos Estados Unidos. “Isso trouxe instabilidade política, mas seria melhor deixar Richard Nixon na Presidência?”
O sucesso no combate à corrupção no Brasil também depende de mudanças na lei. Acabar com os privilégios legais que permitem que os políticos sejam julgados apenas no STF, onde os casos geralmente tramitam bem mais devagar, é um passo crucial para reduzir a impunidade, disse Moro. Outro é acabar com o sistema de apadrinhamento que coloca os políticos no comando das empresas estatais. Moro disse considerar que a decisão do STF de restringir o foro privilegiado a senadores e deputados por crimes cometidos fora do mandato foi um avanço, assim como a decisão da Corte de proibir que empresas façam doações eleitorais a candidatos. “Eu acho que deveriam ser eliminados todos os privilégios como os que temos. Eles não fazem muito sentido se você tem esse compromisso público com a igualdade.”
Apesar da magnitude e da abrangência dos escândalos de corrupção descobertos pela Lava-Jato, para Moro, a sociedade não deve se sentir desencorajada, pelo contrário, perceber que a corrupção está finalmente sendo combatida. “Os brasileiros devem se orgulhar, eles foram para as ruas para protestar”, disse o juiz, muitas vezes retratado como um super-herói por seus fãs.
Ele considera o apoio popular essencial para proteger a Lava-Jato de seus inimigos e descartou qualquer plano de concorrer a um cargo político. “Isto é uma fantasia. Eu não posso concorrer nessas eleições e fiz a promessa de que não vou concorrer nunca no futuro. Sou feliz sendo juiz”.
Em vez disso, Moro disse que pensa em tirar um tempo para estudar Direito no exterior, provavelmente nos Estados Unidos: “Eu acho que poderia ser um bom momento para sair do calor.”
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