por Mary Zaidan Veja
Dane-se se o coligado é de esquerda, direita, liberal ou estatizante. Nesta fase, a pouco mais de nove meses da disputa eleitoral, vence quem captar aliados de grande porte e agregar o maior número de nanicos. A ordem é ampliar a base política e somar mais segundos na propaganda de rádio e TV dita gratuita, mas paga por todos os brasileiros.
Esse é o grande trunfo do MDB do impopular Michel Temer, que o torna desejável até por seus críticos – PSDB à frente. Ou pelo PT, que renega o ex-parceiro da presidente cassada Dilma Rousseff, mas quer o partido de Temer como aliado para, por exemplo, apoiar a recandidatura de Fernando Pimentel em Minas Gerais.
Por ter a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados, o MDB do presidente tem quase 3 minutos para negociar. E mais de mil prefeitos espalhados por todo o país, essenciais para qualquer campanha.
Diga-se que desde a redemocratização só Fernando Collor de Mello, do então PRN, chegou ao Planalto sem minutos a rodo no horário eleitoral e sem a força de um partido com capilaridade nacional. Mas isso ocorreu em uma eleição diferente de qualquer outra, exclusiva para presidente, cuja propaganda não precisava ser dividida com candidatos a governador, deputados federais e estaduais.
A fragilidade da equação tempo de rádio e TV e base municipal, onde se dá a política cotidiana, pode atazanar o PT.
Embora detenha sozinho o maior tempo no horário eleitoral (1min35s por bloco de propaganda e 3,5 inserções de 30s ao dia), o partido de Luiz Inácio Lula da Silva amargou derrotas que reduziram em 60% sua força regional. Em 2016 elegeu apenas 256 prefeitos contra 630 na disputa anterior. Perdeu a cidade de São Paulo e só emplacou uma capital: Rio Branco, no Acre. Depende, portanto, de alianças regionais.
Os partidos sem candidato próprio à Presidência da República somam 6min6s em cada um dos dois blocos de 12m30s que serão veiculados entre 31 de agosto e 4 de outubro na mídia eletrônica. E por 13 inserções diárias de 30s, tidas como o filé do horário político por estarem diluídas na programação das emissoras.
O PSDB de Geraldo Alckmin tem 1min18s em cada bloco e confortáveis 793 prefeitos empossados no ano passado, incluindo o pupilo João Doria, na capital paulista, cuja popularidade relâmpago, rapidamente abalada, chegou a ameaçar o criador. Uma base e tanto que os tucanos insistem em usar contra eles próprios em digladio interminável.
Segundo colocado nas pesquisas eleitorais, Jair Bolsonaro terá algo em torno de 10s de tempo na TV e no rádio caso se filie ao PSL. Dois a menos do que a Rede de Marina Silva e o Podemos de Álvaro Dias. O PDT de Ciro Gomes, 33s, e o PSD do ministro Henrique Meirelles, 54s. Até agora, já são 12 postulantes, com segundos pingados.
Bolsonaro aposta todas suas fichas no meio digital. No Facebook reúne quase 5 milhões de fãs. Sua tropa de choque, afinada e treinadíssima, joga no ataque, incentivando o ódio, que tanto sucesso faz nas redes.
Imagina-se um Donald Trump que, por sua vez, crê que venceu a batalha pelo Twitter. Só que a versão trumpista tropical não tem por detrás a força do Partido Republicano que venceu as eleições e levou o magnata, derrotado no voto popular, até a Casa Branca.
No Brasil, com raras exceções, as eleições majoritárias têm premiado candidatos que delegam parcial ou integralmente conteúdos não só das campanhas, mas do governo, a marqueteiros. Não raro com promessas sem lastro, generalidades e mentiras deslavadas.
A essencialidade do rádio, da TV, da internet, de outras mídias e formas de divulgar uma candidatura é indiscutível. Mas são apenas meios.
Nem a propaganda nem as alianças de ocasião, muitas delas esquizofrênicas, deveriam definir a conduta dos candidatos. Muito menos impor a perversa ordem que relega ao segundo ou terceiro planos o ideário e as propostas do pretendente para minimizar as aflições do cidadão e os problemas do país.
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