por Zuenir Ventura O Globo
Nem antes, quando ele foi condenado pelo juiz Sergio Moro, nem agora, que a sentença foi confirmada, consigo comemorar. Mais pela emoção do que pela razão, meu sentimento não é de júbilo, mas de desgosto e decepção.
Isso, porém, não me faz embarcar nessa onda de que a imprensa, a polícia, o Ministério Público e a Justiça se uniram para perseguir o líder petista — logo a Justiça, cuja instância máxima, o STF, tem sete dos 11 ministros nomeados pelos dois ex-presidentes petistas.
Comecei a admirar Lula em 1980, quando, em vez de se cercar dos que um dia foram chamados de “aloprados”, ele reuniu 32 cidadãos exemplares, como Antonio Candido e Sérgio Buarque de Holanda, para fundar o PT, o “partido da ética”, que prometia não roubar nem deixar roubar. E por muito tempo foi assim; era um desafio encontrar em algum escândalo um membro do PT. Hoje é não encontrar.
Em 1993, cobri para o “Jornal do Brasil” a sua primeira Caravana da Cidadania, que percorreu em 24 dias 54 bolsões do Nordeste carentes de comida e de água. Quando o vejo agora se achando Mandela e Tiradentes, me lembro de sua entrada em Nova Canudos acompanhado de uma chuva torrencial após três meses de seca inclemente.
Ao contrário da atual mania de grandeza, sua sincera preocupação era não estimular a celebração na praça da coincidência das duas chegadas, a dele e a da chuva, como “dádiva divina”. Ele não queria se beneficiar da confusão entre acaso e milagre, muito comum no reino mítico de Conselheiro e Padim Ciço.
Há quem considere excessivo o rigor da pena, alegando que outros condenados receberam punições bem menores por desvios muito maiores. Mas não teria sido precipitada a atitude de um ex-presidente que, mesmo antes de esgotar todos os recursos a que tem direito, resolveu desrespeitar a Justiça com um discurso de insubordinação que acirrou o ânimo de seus devotos?
O senador Lindbergh, por exemplo, seguindo a linha da presidente de seu partido, avisou que, antes de prender Lula “terão que prender milhões de pessoas”. Descrente das instituições, ele acha que só há “um caminho para derrotar o golpe: as ruas, as mobilizações, a rebelião cidadã, a desobediência civil”.
O coordenador do MST, João Pedro Stédile, por sua vez, mandou um “recado para dona Polícia Federal e para o Poder Judiciário: não pensem que vocês mandam no país:
impediremos com tudo o que for possível que o companheiro Lula seja preso”.
O deputado Wadih Damous disse, referindo-se supostamente aos desembargadores: “Eles jogaram fogo no país, não cabe a nós o comportamento de bombeiros”.
E assim, radical e revanchista, foi o tom dos discursos na reunião em que a executiva do PT, após a confirmação unânime da sentença de Moro, reafirmou a candidatura de Lula ao Planalto.
Definitivamente, o insucesso subiu-lhes à cabeça.
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