MIRANDA SÁ
De
tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de
tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da
honra e a ter vergonha de ser honesto” (Rui Barbosa)
domingo, 21 de janeiro de 2018
JULGAR
No
Japão há um templo que projeta no frontispício as estátuas de três
macacos de pedra preciosa, um trio que forma um conjunto inseparável. Os
símios usam as duas mãos para cerrar a boca, fechar os olhos e tapar as
orelhas. Essas figuras são encontradas hoje como bibelôs em qualquer
loja de R 1,99.
É
um simbolismo que representa a maneira Zen de fugir à responsabilidade
de avaliar, tirar conclusões e julgar o que de real se lhes apresenta.
“Não ouça, não veja e não fale. Não sei se os deuses e seus profetas
interpretam assim. Creio que não, porque todas as religiões do mundo
falam de um julgamento divino nas acepções jurídica, psicológica e
religiosa.
Está
escrito em Sânscrito e nos chegou através do latim, o verbo Julgar,
duplicado em transitivo direto e intransitivo; o “judicare” (julgar) é
formado por Jus, “lei, direito”, mais Dicere, “dizer, falar”,
significando tomar decisão, deliberar na qualidade de juiz, ou formar
conceito, emitir parecer, opinião sobre alguém ou algo.
A
nossa cultura ocidental miscigenada com o judaísmo e sacramentada pelo
cristianismo expõe como ideal de Justiça os julgamentos conforme o Rei
Salomão, que se encontra no primeiro livro dos Reis 3,16-28 este exemplo
de isenção e sabedoria.
Todo
mundo ouviu um dia a história de Salomão julgando a causa de duas
mulheres, que haviam parido ao mesmo tempo e o filho de uma delas foi
natimorto. Restando apenas um bebé, ambas reivindicaram a maternidade
dele.
Resolvendo
a questão Salomão decidiu cortar a criança ao meio e que cada mulher
ficasse com uma parte. Uma delas disse: – Ah, meu senhor! Dês o menino
vivo, não o mateis. A outra, porém, disse: Já que não será meu, nem teu;
dividi-o.
O
sábio juiz distinguiu que a verdadeira mãe era aquela que impediu a
morte do filho e deu-lhe a posse, enquanto condenou à morte a falsária.
A
degenerescência dos costumes herdadas do totalitarismo desumano e a
concepção maniqueísta criada pela guerra fria, incentivou o egoísmo, a
disputa desregrada pelo poder político e a corrida insana pelo dinheiro.
Isto feriu as tradições de respeito humano, subvertendo os conceitos de
moral e ética.
Esta
revolução nos costumes do século XX envolveu arbitrariamente a todo
mundo, e no Brasil, tornou-se inseparável da ganância política e do
favoritismo jurídico. Os políticos – em sua maioria – tornaram-se
desonestos; e os magistrados – pelos desonestos nomeados – fugiram à
responsabilidade de julgar.
Uma
ideologia desmembrada de princípios, mesmo aleijada expõe a Justiça a
uma tortura diária. Neste momento em que escrevo, milhares de crimes são
cometidos; a violência contra a mulher e a criança, o tráfico de
drogas, a formação de quadrilhas, o roubo e o assassinato fazem parte do
nosso cotidiano.
O
culto da justiça como o alicerce fundamental da República e da
Democracia está sendo trocado pela paixão partidária, subserviência,
interpretação restritiva e prevaricação jurídica, por culpa de alguns
juízes.
Por
defender os poderosos, a Justiça está moribunda. Sua túnica pregueada e
os olhos vendados são a própria mortalha, sem a espada e a balança;
assim será enterrada em vala comum como indigente e dispensável, sem
choro, nem vela…
Esta
situação faz-me lembrar Rui Barbosa. Os magistrados envolvidos em
tramoias não escaparão ao ferrete de Pilatos: “O bom ladrão salvou-se.
Mas não há salvação para o juiz covarde!”
EXTRAÍDADETRIBUNADAIMPRENSA
0 comments:
Postar um comentário