, por Igor Gielow Folha de São Paulo
Encontro um colega estrangeiro na LAAD, a maior feira de defesa da América Latina, que começou nesta terça (4) no Rio. Sueco, ele disse que não está entendendo nada do que se passa na política brasileira e busca algumas clarificações.
Antes do inevitável chiste ("Eu também não"), o assunto volta à busca pela precisão quando ele cita a questão da votação sobre a cassação da chapa Dilma-Temer no TSE, algo absolutamente insondável para quem vem de um país acostumado ao cumprimento da lei.
Somos interrompidos por um executivo israelense, aparentemente tão curioso pelo imbróglio quanto pela possibilidade de vender algum de seus sofisticados sistemas de vigilância de fronteiras. "O que eu não entendo disso tudo é por que o PSDB manteve a ação depois que foi para o governo", disparou, em ótimo português mesmo.
Confrontado com as nuances legais brasileiras que impedem voltar atrás após certo ponto, fora o custo político natural caso fosse possível recuar, ele brincou: "Eles [os tucanos] deve estar bem arrependidos".
O europeu insistiu: "Mas o presidente vai ser cassado?". Explico que essa seria uma consequência natural caso este fosse um processo mais ordinário, lidando, digamos, com o prefeito de Xiririca da Serra.
Mas, enfim, há considerações lógicas sobre a estabilidade institucional até o pleito de 2018 que vão ser levadas em conta pelos juízes. "Não faz sentido, isso não é coisa de país sério, como o general De Gaulle disse", resignou-se o gringo, sendo admoestado pelo chato aqui para explicar que a famosa frase não foi dita pelo então presidente francês, e sim por um diplomata. Nada contra o veredicto, claro.
E o pior é que faz sentido. O processo entrópico no qual o Brasil adentrou em 2013 parece ter achado um horizonte de epílogo com a eleição presidencial do ano que vem. No esquema das coisas, como já está decantado, tapa-se o nariz e achemos procrastinações e caminhos legais para empurrar tudo com a barriga.
Não é bonito, mas é o que há. Uma executiva americana com grande experiência em Brasil concorda, dizendo ter aprendido que certas acomodações são inevitáveis no país.
Não sem turbulência. Até o espantalho de uma eleição indireta, que é o que determina a Constituição, foi empunhado por gente interessada ou enfastiada pela autofagia interminável. O leite está derramado, e não se trata aqui que "o golpe está comprovado" ou outra infantilidade do gênero. A confusão não ocorre porque o PT foi enxotado do poder; decorre, e muito, do que ele fez enquanto estava lá, somado à sofisticação larval da nossa democracia e de seus representantes _eleitos, é bom lembrar.
Com o adiamento do julgamento, como já era esperado e ainda nem falamos de vistas processuais, está desenhado o quadro de 2017. Restará a Michel Temer buscar aprovar o máximo possível de suas reformas, deixar sua equipe trabalhar por uma melhoria econômica mais sensível, fechar os olhos enquanto o trem-fantasma da Lava Jato expõe os fantasmas de passados não tão distantes e orar para que as míticas "ruas" permaneçam como estão.
Enquanto a floresta pega fogo, a macacada procura galhos mais altos. Quem já está posicionado dentro do campo inevitável da política partidária segue em movimento ou em plena campanha: Alckmin, Doria, Ciro, Lula, Bolsonaro (o horror de colocá-lo na lista é sintoma, não causa).
Dia desses, ao acabar uma conversa sobre conjuntura, o economista Eduardo Giannetti da Fonseca disse apostar que em um ano estaríamos falando de um nome completamente novo na disputa. Eu queria usar isso como deixa quando meus companheiros estrangeiros perguntaram, com uma comovente esperança de receber alguma resposta firme: "E aí, quem vai ganhar?". Desisti.
Na verdade, a tragédia é que mesmo a esperança de uma solução em 2018 não parece sobreviver a um escrutínio mais rigoroso da realidade.
extraídaderota2014blogspot
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