editorial da Folha de São Paulo
O cartaz, com a frase em francês um tanto fora de contexto, talvez exprima bem as reações populares à prisão do ex-governador fluminense Sérgio Cabral (PMDB), numa decorrência (ainda) da Lava-Jato.
Mal se havia divulgado a notícia, na quinta-feira (17), e um cidadão foi fotografado na frente da Polícia Federal (PF) do Rio de Janeiro levantando placa que dizia: "Je suis Sérgio Cabral na cadeia já".
Mencionava, sem dúvida, o lema de protestos contra o atentado terrorista ao jornal satírico "Charlie Hebdo", que, em janeiro de 2015, deixou 12 mortos.
A referência à França evoca, ainda, o jantar em que, acompanhado de Fernando Cavendish, então proprietário da Construtora Delta, Cabral e aliados confraternizavam num restaurante parisiense, alguns deles envergando guardanapos na cabeça.
Ironicamente, a foto da "gangue do guardanapo" foi divulgada, em 2012, por outro ex-governador, Anthony Garotinho (PR) —-também ele preso, sob a acusação de fazer da distribuição de benefícios sociais uma máquina de comprar votos no norte fluminense.
O caso é investigado na Operação Chequinho, que já prendeu alguns vereadores e autoridades do Executivo no município de Campos de Goytacazes (RJ).
Já as notórias relações entre Sérgio Cabral e Cavendish –que incluíam, ainda no universo da nota pitoresca, joias presenteadas à então primeira-dama— ressurgem agora na Operação Calicute.
Guardanapos e joias à parte, o empresário Cavendish —já preso na Operação Saqueador— não é o maior implicado nas irregularidades de que é acusado o ex-governador. A PF conclui que partia das empreiteiras Andrade Gutierrez e OAS dose substancial do "oxigênio", para falar como os envolvidos, canalizado para Cabral.
Estão em jogo desvios avaliados em R$ 224 milhões; obras como a reforma do Maracanã teriam sido contratadas mediante propina.
Sendo plausível presumir que nenhuma obra pública de vulto se constrói sem corrupção, no Brasil, parece sensato dizer que, em tese, a longa sequência de operações e prisões originada com a o Operação Lava Jato não tem data para terminar.
A ponta do novelo foram as operações do doleiro Alberto Youssef, que nesta mesma semana fez o caminho inverso aos de Cabral e Garotinho: depois de dois anos e oito meses detido, beneficia-se agora da prisão domiciliar.
O ciclo, porém, está longe de se fechar. Ampla zona permanece em aberto, quando se tomam em conta as referências, em delações premiadas, a figuras-chave do PSDB, como Aécio Neves e José Serra.
extraídaderota2014blogspot
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