VINICIUS TORRES FREIRE FOLHA DE SP
Enquanto seu lobo não
vem, na falta de conversas decisivas, a gente voltou a discutir o que o
Banco Central vai fazer da taxa de câmbio, do "preço do dólar". Mas o BC
não vai nem tem como fazer nada de muito relevante, a não ser que
cometa maluquices estrambóticas.
Claro que a taxa de câmbio é um
preço central. Que o "dólar" muito volátil ou barato, em especial nos
anos Dilma 1 (R$ 1,60!) ajudou a quebrar as pernas ou uma canela da
indústria, um motivo desta economia trôpega.
Para começar, o
dólar está barato porque há oceanos de dinheiro barato sobrando no mundo
rico, de taxas de juros zero ou menos que isso.
É dinheiro vadio
à procura da vida fácil, como a dos juros a 14,25% ao ano do Brasil.
Dada a calmaria relativa na praça mundial e até no Brasil (menor
"aversão a risco"), os donos do dinheiro grosso vêm tomar caipirinhas no
nosso sol de quase setembro.
Mais da metade da variação do preço
da moeda brasileira tem dependido de fatores externos, de como o
dinheiro reage às idas e vindas das economias centrais, EUA, Europa,
China, e ao preço de commodities. Por vezes, o real varia no mesmo passo
da taxa dos títulos do governo americano, como em 2013, quando o BC dos
Estados Unidos ameaçou pela primeira vez elevar a taxa de juros em sete
anos.
O que o BC poderia fazer, em breve? Ficar comprador de
dólar (com derivativos ou comprando mais reservas)? Trocando em miúdos:
aumentar ainda mais a dívida pública para investir em títulos
americanos, juro real zero, pagando juro brasileiro, mais de 14%? Não
parece razoável, para dizê-lo de modo ameno.
Fechar as fronteiras
do dinheiro, mais ou menos, ou intervenções assemelhadas? Entre outros
muitos problemas básicos, não parece uma boa ideia para um país que
deseja atrair investimentos e, ainda pior, que mal se recupera da má
fama e da ruína deixadas por políticas econômicas malucas.
A não
ser para economistas ditos heterodoxos, resta a fazer apenas o básico.
Baixar o quanto antes e muito a taxa de juros, o que depende hoje,
crucialmente (mas não apenas), de evitar que a dívida pública cresça sem
limite, como agora. No mais, o que resta, parece, é aparar arestas,
evitar flutuações demasiadas da moeda e efeitos secundários dos
corcoveios no câmbio.
Alguns dos economistas apelidados de
heterodoxos acreditam que é possível manter a taxa de câmbio em uma
determinada banda, por meio de intervenções variadas. Baixar a taxa
básica de juros na marra e controlar o fluxo de capitais é em geral o
núcleo dessas propostas, trocando a coisa em miúdos grossos.
"Tudo
mais constante", diga-se ironicamente, juros menores e porteiras
fechadas poderiam permitir um controle do "preço do dólar". Porém, nada
mais ficaria constante. Resta explicar ao público interessado os efeitos
colaterais (o que seria da inflação? O que seria dos juros de longo
prazo, que afetam decisões de investimento? Como ficaria a rolagem da
dívida pública? Etc.).
Quem sabe existam meios de lidar com esses
problemas destrutivos (sem criar outros, como tabelar preços, fazer
"política de rendas", fechar o país, quiçá centralizar o câmbio). A
gente espera uma explicação sobre os desdobramentos desses planos de
colocar cabresto no câmbio.
domingo, 21 de agosto de 2016
Dólar, conversas paralelas -
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