Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A melhor maneira de não se resolver nada é convocar uma reunião

Pedro do Coutto

Esta frase atravessa a névoa do tempo, tem dezenas de autores, o que torna impossível identificá-los, nasceu no espaço político e está cada vez mais atual, principalmente no Brasil. A turma infindável, adepta do talking about, pratica com perfeição o esporte de reunir. Nesse plano se resolve tudo (falar sobre assuntos diversos é fácil), executar as soluções é que é o problema. Para comprovar essa colocação basta assistir a debates sobre economia na televisão. Limitam-se a desenvolver teorias. São adversários da prática.
Aliás a teoria na prática é outra coisa, como dizia – seu autor eu me lembro – o senador Benedito Valadares, que, entre seus méritos, teve o de nomear Juscelino Kubitschek prefeito de Belo Horizonte, por volta de 1940, durante a ditadura de Getúlio Vargas. Valadares era governador interventor de Minas Gerais. A ditadura da época durou de 1937 a 29 de outubro de 1945, quando o ditador foi derrubado pela redemocratização do país.
Mas estou me afastando do assunto, do ponto central. Falei da inutilidade da grande maioria das reuniões. A reunião ministerial convocada pela presidente Dilma Rousseff, na tarde de quinta-feira, no Palácio do Planalto, destacada no dia seguinte pela reportagem de Valdo Cruz, Gustavo Uribe, Marina Dias e Isabel Versiani, na Folha de São Paulo, edição de 9, é um exemplo marcante.
UM VAZIO DE IDEIAS
Realizada para analisar os reflexos da decisão do TCU sobre as contas públicas de 2014, resultou em absolutamente nada. O desfecho caracterizou a presença do óbvio ululante. Pois o que aconteceu no Palácio do Planalto foi exatamente isso: um vazio de ideias e nada mais além das repetições que assinalam os movimentos do poder político. Depois de horas, produziu-se um tratado vazio de qualquer conteúdo concreto, e de interesse coletivo.
Por exemplo: o ministro Ricardo Berzoini, chefe da Secretaria de Governo, reclamou do não cumprimento, pelo Planalto, dos acordos firmados nos bastidores para assegurar o apoio de parlamentares que integram a  agora diluída base aliada no Congresso. O vice Michel Temer disse que apoiava a manifestação de Berzoini, acentuando que foram fatos assim que o levaram a se afastar do ministério sem pasta criado de fato para desenvolve a articulação política do Executivo no Legislativo.
Quer dizer: troca de nomeações por votos no Congresso. Algo mais grotesco do que ridículo, no fundo da questão. Impressionante a presença de tão baixo nível nas articulações, e dos articuladores. Assim é impossível, não se vai a lugar algum. Francamente, é demais.
CANETA MÁGICA
Nenhuma matéria efetivamente importante foi alvo de qualquer análise ou debate mais sério. Se a caneta mágica da presidência tivesse o poder de por si só resolver todos os desafios e remover os obstáculos com os quais se defronta o país, o governo não teria razões de se preocupar com seu destino, com o desfecho da atual crise brasileira.
Suas razões (as da crise) são mais profundas. O problema essencial vem da falta de sintonia de Dilma Rousseff com a população, portanto com a consciência pública. Porque, na verdade, ninguém consegue governar sem a opinião pública. Esta, como o Datafolha e o Ibope vêm revelando, rejeita maciçamente a administração federal.
Sem pelo menos reduzir fortemente esse quadro de indisposição coletiva, a atual presidente não conseguirá livrar-se do maremoto, fruto da incompetência, e estabilizar sua viagem até a sucessão de 2018. Três anos passam depressa, porém na política são uma eternidade. Tudo é relativo. Como aliás, os impulsos humanos confirmam. Só Deus é absoluto.





extraídadetribunadainternet

0 comments:

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More