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Os cursos de formação de professores têm evasão maior que 30%, acima da média registrada por outras graduações.
Apesar de haver escolas sem professores no Brasil, o número de licenciados entre 1990 e 2010 seria suficiente para atender à demanda atual por docentes. É o que revela a pesquisa inédita do professor José Marcelino de Rezende Pinto, da Universidade de São Paulo (USP). Faltam, portanto, profissionais interessados em seguir carreira dentro da sala de aula.
O estudo aponta para a necessidade de tornar a profissão mais atrativa e
de incentivar a permanência estudantil na área. Isso porque o número
total de vagas na graduação é três vezes maior que a demanda por
professores estimada nas disciplinas da educação básica. Em todas as
áreas, só as vagas de graduação nas universidades públicas já seriam
suficientes para atender à demanda...
Para realizar a pesquisa, o autor cruzou a demanda atual por
profissionais na educação básica com o número de formados nas diferentes
disciplinas curriculares entre 1990 e 2010. Assim, apenas em Física é
possível afirmar de fato que o número de formandos não é suficiente para
suprir a necessidade.
Segundo Marcelino, os titulados preferem ir para outras áreas a seguir a
docência. "A grande atratividade de uma carreira é o salário. Mas, além
da remuneração, o professor tem um grau de desgaste no exercício
profissional muito grande. E isso espanta", afirma o pesquisador, que é
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto.
Os cursos de formação de professores têm evasão maior que 30%, acima da
média registrada por outras graduações. "Em vez de financiar novas
vagas, muitas vezes em modalidade a distância sem qualidade, precisamos
investir para que o aluno entre e conclua."
Dados recentes mostram que há um déficit nas escolas brasileiras de 170
mil professores apenas nas áreas de Matemática, Física e Química. Só na
rede estadual de São Paulo, 21% dos cargos necessários estavam vagos no
ano passado, como revelou o Estado na ocasião. A maior lacuna era em
Matemática e Português, esse último com falta de 7,1 mil docentes - o
governo do Estado afirma que os alunos não ficam sem aula, mesmo que
acompanhados por professores de outras formações.
Em Língua Portuguesa, a pesquisa revela um dos maiores abismos. O
número de concluintes entre 1990 e 2010, de 325 mil, é quase três vezes
maior que a demanda calculada, em torno de 131 mil.
Só três disciplinas aparecem com razão negativa entre concluintes e
demanda: Ciências, Língua Estrangeira e a já citada Física (veja o
infográfico ao lado). Nas duas primeiras, os dados não refletem algumas
condições: a área de Língua Estrangeira é atendida por formados em
Letras, que tem alto índice de estudantes, e muitos professores de
Ciências têm formação em Biologia - que tem a maior proporção de
concluintes.
Ganho. O salário de um professor é, em média, 40% menor que o de um
profissional de formação superior. Foi essa diferença de renda que fez
Simone Ricobom, de 40 anos, deixar a docência em 1998 - após cinco anos
na área - para trabalhar na Previdência Social. "Havia o pensamento de
que o professor tinha de ser um pouco mãe e eu queria ser profissional.
Também percebi que não havia projeção na carreira." Ela voltou a atuar
na educação infantil entre 2008 e 2012, dessa vez na rede particular,
mas se decepcionou novamente.
O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel
Cara, diz que o resultado da pesquisa desconstrói um falso consenso
sobre um "apagão". "Os dados reforçam que a principal agenda na questão
docente é a da valorização", diz. "Valorização é garantia de boa
formação inicial e continuada, salário inicial atraente, política de
carreira motivadora e boas condições de trabalho."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Revista Istoé / AE
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