APÓIO RODRIGO DELMASSO DEP. DISTRITAL 19123
Marina
Silva construiu sua carreira associada a um discurso ambientalista, de luta
contra transgênicos, crítica ao desmatamento, defesa dos pobres e
intransigência de "princípios" -embora nunca se soubesse direito
quais eram exatamente estes. A seu favor, contou ainda com uma história
de vidarepleta de sofrimento e superações. Se esta trajetória deixou sequelas
em sua saúde, ao mesmo tempo esculpiu uma imagem bem ao gosto de marqueteiros.
Esse
capital, que sempre impulsionou a candidata e angariou a simpatia de milhões,
agora está sendo jogado no lixo. A nova política, como os fatos têm
demonstrado, é o rótulo que batiza não uma mudança de valores, mas a
transformação da própria Marina. Um caso pensado de autodesconstrução.
As
propostas da personagem repaginada são, no mínimo, desalentadoras. No campo da
economia, repete sem nenhuma originalidade o estribilho do tripé estabilidade
cambial, controle da inflação e equilíbrio fiscal. Acrescentou a independência
do Banco Central, uma cantilena que soa como música entre o
pessoal da banca.
As
restrições a doadores eleitorais "impuros" também são coisas do
passado. Agora, vale tudo, desde que jorre dinheiro na campanha. O combate aos
transgênicos encontra-se devidamente engavetado. Quando se trata de costumes,
nem se fale. Deu origem até a um fato inédito: uma errata de última hora num programa
pronto há meses.
Na
esfera da política, uma embromação atrás da outra. "Democracia
transversal", "adensamento do programa" e pérolas do gênero por
enquanto só produziram uma coalizão capenga, um avião-fantasma e a busca
frenética por aliados de qualquer natureza. Nada mais velho e conhecido.
Junto
a isso, surge mais um embuste. Vamos governar com os "melhores". Que
diabo é isso? Francis Fukuyama, historiador americano, teve seus 15 minutos de
fama quando decretou o fim da história. O marco seria a queda do Muro de
Berlim. Os acontecimentos de lá para cá trataram de desmenti-lo redondamente.
Ou seja, a diferença entre classes sociais, a desigualdade nadistribuição
da riqueza e o abismo entre ricos e pobres estão aí, vivinhos da
silva.
Nesta
fase em que passou de bagre a tubarão, Marina tenta nos convencer de que
desapareceram interesses em conflito. Chegou ao cúmulo de colocar no mesmo
patamar Chico Mendes, o dono da Natura e o pessoal do Itaú, um dos líderes em
demissões no setor financeiro. Só faltou incluir fazendeiros que
armaram com êxito o assassinato do líder sindical.
Ocorre
que o melhor para um banqueiro certamente não será o melhor para um endividado,
assim como o certo para um evangélico pode ser errado para um católico ou ateu.
A democracia autêntica, até onde se sabe, prevê um jogo político capaz de fazer
valer a vontade da maioria -sem nunca impedir a expressão e os direitos
das minorias. A visão messiânica, tão ao gosto de Marina, caminha no
sentido contrário. Geralmente tem como epílogo a minoria dos
"melhores" sufocando a maioria mais humilde.
Retomando
algo já escrito outras vezes. O que o brasileiro quer saber é muito
simples: o que os candidatos têm a oferecer para ampliar conquistas já
obtidas. Haverá mais empregos ou uma onda de demissões? A
aposentadoria vai mudar? O preço do pãozinho subirá? E o salário mínimo? Vem aí
um tarifaço? A gasolina irá aumentar? Os juros cobrados pelos banqueiros
continuarão nas alturas? As grandes fortunas serão taxadas? Quais medidas
concretas serão tomadas para resolver questões como essas?
Ricardo
Melo, 58, é jornalista.
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