Carlos
Chagas
Vem
por aí, talvez antes que a Copa do Mundo se encerre, uma bomba pior do que
a da hipotética desclassificação do selecionado brasileiro: o doleiro
Alberto
Youssef está disposto a abrir o bico e relatar à Polícia Federal, ao
Ministério
Público e ao poder Judiciário seu relacionamento detalhado com
parlamentares
e com altas autoridades de empresas do governo, em matéria de lavagem
de dinheiro e transferência de bilhões de dólares para o exterior.
Sem
esquecer as empreiteiras, os bancos e seus principais dirigentes e
laranjas.
Com
isso, o bandido poderá valer-se do instituto da delação premiada e
encurtar
parte de sua condenação por haver transformado o poder público e
seus
cúmplices do setor privado numa caverna do Ali Babá de proporções
olímpicas.
Porque os indícios até agora apurados da lambança feita por eles,
com
recursos do estado, ultrapassam de muito os desvios do mensalão e os
escândalos
do episódio dos anões do orçamento. Coisa capaz de fazer corar frades
de pedra, até mesmo o sisudo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal
Federal, já sabendo de boa parte dos detalhes da roubalheira. Não se
duvida de que a Petrobras e montes de obras públicas, além de serviços contratados
pelos governos Lula e Dilma, explodirão como petardos dignos das últimas
guerras mundiais.
A
pergunta que se faz é se alcançarão a sucessão presidencial. Com toda
certeza,
sim, caso não venham a ser neutralizados pelos antídotos tão comuns nos
tempos atuais. Mas se a lei for aplicada, parece difícil que escapem parlamentares
em profusão, empreiteiras a dar com o pé, altos funcionários do
Executivo e, acima de tudo, instituições podres funcionando à nossa volta.
Não se trata de iniciativas da fraca oposição, muito menos de ações da
mídia sempre propensa a conciliar os interesses daqueles que a
privilegiam
com farta publicidade. Mais fundo situa-se a obrigação da
Polícia
Federal, do ministério Público e do Judiciário. Iniciaram o processo
e
dele não podem fugir.
A
investigação, a denúncia e o julgamento compõem uma trajetória uniforme
e
inexorável, capaz de ser interrompida apenas pela supressão de sua peça
principal,
Alberto Youssef. Deve cuidar-se não o meliante, posto sob a
proteção
do poder público, mas quantos o guardam. Mais do que nunca a
estratégia
da "queima de arquivo" paira sobre a prisão onde se encontra. Um
desafio
moral para o governo que eticamente precisa preservá-lo, mesmo à
custa
de sua própria sobrevivência. O episódio Celso Daniel não deixa
dúvidas
da fragilidade dessas convicções, ainda que o doleiro se encontre
sob
a custódia do poder público.
É
sempre bom buscar no passado lições para o presente. Em 1962, faltava
uma
semana para a libertação condicional de Gregório Fortunato, chefe da
guarda
particular de Getúlio Vargas e mentor da tentativa de assassinato do
jornalista
Carlos Lacerda, em 1954. Livre, ele poderia contar a serviço de
quem
organizara o malogrado atentado. Foi
esfaqueado na Penitenciária Lemos Brito, no Rio.
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