Editoria O Globo,
A reunião do ministro-chefe da secretaria-geral da Presidência, Gilberto
Carvalho, com blogueiros e jornalistas chapas-brancas poderia ser contestada
por partidos de oposição pelo fato de ter sido realizada no Palácio do
Planalto. O encontro, realizado quarta-feira e transmitido pela internet,
tratou de estratégias de defesa do governo Dilma na rede mundial de
computadores, com óbvias intenções eleitorais. Logo, um ato de campanha.
Portanto, inadequado a um espaço cujo proprietário é o Estado e não o PT, ou
qualquer outro partido.
Mas costumam ser tantas as transgressões à legislação eleitoral, e não
apenas nesta eleição, que os transgressores parecem vencer pelo cansaço. No
caso desse ilustrativo encontro, o mais importante terminou sendo as próprias
características da reunião e a agenda discutida.
Talvez pela crescente preocupação com a tendência das pesquisas
eleitorais, lulopetistas começam a se descuidar. Escancaram conversas
sugestivas entre uma autoridade, blogueiros e jornalistas ligados ao PT, muitos
dos quais atuam apoiados financeiramente por meio de anúncios de estatais.
Recebem dinheiro público.
Essa reunião reforça a previsão de que a campanha deste ano tende à
radicalização. E, como já aconteceu no passado, a internet será campo de uma
guerra suja, espaço livre a calúnias e difamações. De lado a lado.
O tom já havia sido dado por Lula, líder máximo do partido, ao acusar a
“elite branca” pela vaia e xingamentos a Dilma, no jogo de abertura da Copa, e
responsabilizar pela clima oposicionista a “mídia conservadora". Só
faltava esta: o PT racializar a disputa eleitoral. No lado oposto, o candidato
Eduardo Campos (PSB) conclamara os eleitores a tirar os “ladrões” de Brasília.
Enquanto Aécio Neves procurou razões para explicar a inaceitável ofensa pessoal
à presidente da República.
O truque de animar a militância petista atiçando-a contra a imprensa
profissional e independente não é novo. E o encontro de Carvalho com parte da
tropa de choque petista no mundo digital serviu para atiçar ainda mais a militância.
A que age muitas vezes sob anonimato na internet. O ministro, setorista de
“movimentos sociais” no governo e no PT, quer apoio da tropa à criação da rede
de comissões instituída por decreto-lei e sob risco no Congresso, pois ficou
evidente seu objetivo de ampliar o aparelhamento da máquina pública e drenar
poder do Legislativo. “Temos de comprar esta briga!”, conclamou Gilberto
Carvalho. É o que ele chama de “fazer o debate na mídia" (sic).
Em troca, os militantes digitais petistas pediram mais dinheiro público
(da verba de publicidade oficial), a “regulação da mídia" (censura à
imprensa profissional) e até o uso da TV Brasil como instrumento político. Se
podem fazer reunião partidária no Planalto, por que não colocar a TV pública na
campanha? Tem uma lógica.
O encontro de quarta ensinou tanto quanto a mais profunda análise da
conjuntura política.
fonte - diplomatizando
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