Carlos I. S. Azambuja
Derrubado o regime burguês, o PC, de imediato, caminhará em direção à ditadura do proletariado, pois se não o fizesse não seria um Partido Comunista.
Para lograr seu objetivo passará por algumas etapas intermediárias, as mínimas absolutamente necessárias, com a finalidade de adormecer a resistência cívica e evitar qualquer intento eficaz de contra-revolução ou retrocesso.
Durante essas etapas intermediárias o novo governo envolverá seus atos em todas as aparências de legalidade democrática, visando a não desafiar o tradicional respeito das Forças Armadas ao regime constitucional, e também não entrar em conflito, antes do tempo, com o Poder Judiciário, ainda burguês. Cada um dos atos do novo governo, porém, sob o aspecto da legalidade, conterá uma dinâmica interna poderosa em direção ao objetivo visado.
O novo regime mostrar-se-á, no início, muito respeitoso para com a Igreja. Exibirá um espírito aberto e conciliador, a fim de manter um clima pacífico. Entretanto, já terá iniciado, sem perda de tempo, a meticulosa tarefa de desmontar sistematicamente a máquina de democracia burguesa, de ir minando a liberdade econômica e debilitando a resistência da empresa privada.
A transformação irá sendo realizada por um método comparável a de uma transfusão de sangue. Os vasos sanguíneos do país continuarão sendo os mesmos, porém o fluído vital que anima todo o corpo irá sendo transformado progressivamente.
Assim, o país, ao despertar em cada manhã, ao olhar-se no espelho, verificará que nada mudou em sua fisionomia. Sou o mesmo de ontem e de sempre, pensará despreocupadamente. Entretanto, isso não é verdade, pois sob a pele, no interior de sua superestrutura formal, já se estará operando uma profunda metamorfose em sua vontade e em sua psicologia de corpo social.
Uma nova substância, habilmente preparada, estará lavando e irrigando, a cada instante, o cérebro nacional. Pouco a pouco suas reações irão passando por uma transformação. Hoje em um aspecto, amanhã em outro. Primeiro nas questões mais simples e inocentes, depois em assuntos mais importantes. Sempre, no entanto, ganhando espaços e conquistando posições.
Modos de pensar e de reagir, tradicionalmente arraigados, que sempre foram considerados sãos e corretos por toda a coletividade, irão se debilitando. O mecanismo dos valores morais experimentará mudanças estranhas e irá transformando as hierarquias éticas e estéticas. Também serão produzidas alterações na lista de prioridades e das ações individuais e coletivas, até então aceitas por consenso. No delicado e sutil mecanismo do cérebro pessoal e do pensar comum, o novo sangue ocasionará sucessivas tomadas de consciência com relação às realidades objetivas. Enfoques distintos dos que até então eram considerados imutáveis, a princípio com pequenas alterações e diferenças de matiz, porém progressivamente divorciados da consciência burguesa, não causarão estupor à classe média, historicamente despreocupada, despolitizada e distante.
É assim que as coisas irão sucedendo nas esferas do governo e da administração pública. As novas medidas democráticas parecerão aceitáveis e sempre os analistas nelas encontrarão pontos de vista defensáveis, ângulos razoáveis, circunstâncias atenuantes e aspectos positivos.
Aqueles que insistirem na aplicação das antigas leis, ainda vigentes, a antiga consciência, serão tachados de fascistas, reacionários e infensos à democracia.
Terão cada vez maior envergadura as coisas inauditas que o organismo coletivo passará a aceitar. Até que um dia, a juízo da junta de psiquiatras do marxismo, o paciente nacional será dado como pronto para a intervenção. Seu cérebro estará completamente lavado e abatidas suas resistências. Chega, então, a despeito da resistência de um pequeno núcleo, que poderá ser vencido mas não convencido, no qual se encontra o autor deste artigo, o momento da ditadura do proletariado, a hora da mudança revolucionária das estruturas, da eliminação das demais classes, da expropriação das propriedades, da construção do socialismo.
Algumas pessoas ficarão assustadas, mas a maioria julgará esta narrativa apenas uma especulativa obra de ficção política.
Aqueles que assim julgarem deverão recordar a mutação sofrida pela revolução cubana, o que aconteceu na Nicarágua nos anos 70, e analisar com frieza os instrumentos que nosso país oferece aos terroristas dos anos 60 e 70, muitos hoje no Poder, tendo presente que o conceito de uma correlação de forças favorável aos comunistas, para eles é sinônimo de maioria, pois o que lhes importa é a maioria ativa, conceito que consideram mais rico e complexo.
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