VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP -
País toma anestesia local, não geral, faz festa com o futebol, mas o eleitor continua insatisfeito
A BRISA ALEGRE da Copa até agora festiva dissipou os miasmas que deixavam o clima pesado até faz muito pouco: 12 dias. Mas os maus humores terão escorrido para o ralo? O que será quando a Copa acabar, o que, esperamos, ocorrerá com vitória em 13 de julho?
A anestesia futebolística não foi geral, mas local. Os insatisfeitos com governo, política e economia ganharam adesões, dizem as pesquisas. Mas até para militantes é difícil viver em tensão permanente. A maioria de nós parece ter resolvido fazer um pouco de festa; não mudou de opinião.
Nos últimos meses, falamos muito de política e governo por meio de símbolos tais como a Copa ou, entre minorias, na guerra "ideológica" desencadeada por questões que foram dos rolezinhos aos insultos contra Dilma Rousseff.
Pouco antes, foi comum se tratar de insatisfações diversas, quando não adversárias, por meio da crítica genérica dos "políticos", de um Estado distante, que não oferece serviços públicos, quando não é apenas fonte de opressão física.
No rescaldo de um ano de revolta, os partidos e candidatos maiores apareceram mais desprestigiados que de costume, vide a quantidade de "votos de protesto" (nulo, branco, nem aí etc).
Findo o show da Copa, começa sem mais o show da eleição. Se a insatisfação de fundo continuar, contra governos e políticos em geral, quais contornos terá? Ainda haverá "rua"? Militantes, como os sem-teto e os do passe livre, em São Paulo, não vão submergir sem mais. Difícil é, a princípio, imaginar que o combustível das manifestações não tenha diminuído desde junho do ano passado e depois da Copa.
Os fatores de irritação mais difusa, cotidiana, não desapareceram, pelo contrário. Ainda que o mau humor econômico tenha sido exagerado em abril e maio, a economia real declina de fato e mais do que o esperado, inclusive no emprego. A mais recente previsão dos economistas privados estima que o PIB deve crescer menos que 1,2%, quase estagnação.
Há chance razoável de notícias simbolicamente ruins em julho e agosto (não serão boas de modo algum, mas devem soar ainda pior): inflação talvez acima do teto da meta, PIB zero, demissões em indústrias visíveis, com sindicatos fortes. Haverá algum motivo e muita oportunidade para o acirramento de ânimos políticos.
O governo decerto vai contra-atacar. Vai lançar o Minha Casa, Minha Vida fase 3 ainda em julho. Vai trombetear para o público menos informado e pobre os programas sociais que patrocinou, muito extensos, goste-se ou não deles.
Para o eleitorado minoritário mais dado à política-politiqueira, haverá mais motivos para decepção ou nojo, dada a barafunda de alianças cruzadas entre partidos. A oposição federal alia-se regionalmente a aliados nacionais do governo, entre outras indignidades. Pequenos e provincianos, os candidatos maiores não se dão conta do tamanho da repulsa que realimentam.
Não há motivos para acreditar que a fervura baixe. Está mais difícil de saber como tal desgosto vai se expressar. Em ano de eleição nacional, era de esperar que partidos maiores dessem sentido às revoltas mais comuns, ao menos. Só que não. Ainda, ao menos.
País toma anestesia local, não geral, faz festa com o futebol, mas o eleitor continua insatisfeito
A BRISA ALEGRE da Copa até agora festiva dissipou os miasmas que deixavam o clima pesado até faz muito pouco: 12 dias. Mas os maus humores terão escorrido para o ralo? O que será quando a Copa acabar, o que, esperamos, ocorrerá com vitória em 13 de julho?
A anestesia futebolística não foi geral, mas local. Os insatisfeitos com governo, política e economia ganharam adesões, dizem as pesquisas. Mas até para militantes é difícil viver em tensão permanente. A maioria de nós parece ter resolvido fazer um pouco de festa; não mudou de opinião.
Nos últimos meses, falamos muito de política e governo por meio de símbolos tais como a Copa ou, entre minorias, na guerra "ideológica" desencadeada por questões que foram dos rolezinhos aos insultos contra Dilma Rousseff.
Pouco antes, foi comum se tratar de insatisfações diversas, quando não adversárias, por meio da crítica genérica dos "políticos", de um Estado distante, que não oferece serviços públicos, quando não é apenas fonte de opressão física.
No rescaldo de um ano de revolta, os partidos e candidatos maiores apareceram mais desprestigiados que de costume, vide a quantidade de "votos de protesto" (nulo, branco, nem aí etc).
Findo o show da Copa, começa sem mais o show da eleição. Se a insatisfação de fundo continuar, contra governos e políticos em geral, quais contornos terá? Ainda haverá "rua"? Militantes, como os sem-teto e os do passe livre, em São Paulo, não vão submergir sem mais. Difícil é, a princípio, imaginar que o combustível das manifestações não tenha diminuído desde junho do ano passado e depois da Copa.
Os fatores de irritação mais difusa, cotidiana, não desapareceram, pelo contrário. Ainda que o mau humor econômico tenha sido exagerado em abril e maio, a economia real declina de fato e mais do que o esperado, inclusive no emprego. A mais recente previsão dos economistas privados estima que o PIB deve crescer menos que 1,2%, quase estagnação.
Há chance razoável de notícias simbolicamente ruins em julho e agosto (não serão boas de modo algum, mas devem soar ainda pior): inflação talvez acima do teto da meta, PIB zero, demissões em indústrias visíveis, com sindicatos fortes. Haverá algum motivo e muita oportunidade para o acirramento de ânimos políticos.
O governo decerto vai contra-atacar. Vai lançar o Minha Casa, Minha Vida fase 3 ainda em julho. Vai trombetear para o público menos informado e pobre os programas sociais que patrocinou, muito extensos, goste-se ou não deles.
Para o eleitorado minoritário mais dado à política-politiqueira, haverá mais motivos para decepção ou nojo, dada a barafunda de alianças cruzadas entre partidos. A oposição federal alia-se regionalmente a aliados nacionais do governo, entre outras indignidades. Pequenos e provincianos, os candidatos maiores não se dão conta do tamanho da repulsa que realimentam.
Não há motivos para acreditar que a fervura baixe. Está mais difícil de saber como tal desgosto vai se expressar. Em ano de eleição nacional, era de esperar que partidos maiores dessem sentido às revoltas mais comuns, ao menos. Só que não. Ainda, ao menos.
fonte avarandablogspot
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