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embaixo do verniz político está um homem simples demais para ser nosso
presidente; danosamente simples demais. O que impressiona é como isso pôde
passar despercebido do imaginário popular.
O
Millôr começou por dizer que, seguindo um critério de Lombroso, Lula é um
fronteiriço. Aliás, Enéias, o Breve, também disse isto em já célebre sessão
do Conselho de Ética esses dias.
Mas
Lula é antes de tudo um fraco. Fraco de cabeça, de instintos baixos, não
maus, mas baixos, rudes, toscos. É irascível, odiento, sangüíneo, sialorréico
e sudorréico. Em seu pícnico aspecto encerra em sua grossa carapaça sertaneja
uma mente prática, adaptada para a sobrevivência física e que desdenha as
sutilezas intelectuais nos outros. Uma mente que se compraz em obter
vantagens ecológicas guiando uma existência física em um corpo sertanejo
entre os espinhos da vida. Eis a sua faculdade da vida. Eis a sua contradição
nordestina: apesar disso, Lula é um ... fraco!
Disfarça
isso entre lágrimas fáceis e apelativas, escravas do pieguismo fronteiriço,
que faz às vezes de uma doutrina moral facilitadora para o seu intelecto
limitado. Isso ainda lhe rende uma proximidade calorosa com as massas que
nele vêem um igual, que com luxúria contagiante compartilham seus QIs em uma
sintonia barulhenta de lascívia, de apetites coletivos, de ardores
físicos comunitários em bem tipificada cumplicidade mental onde a moralidade
precisa ser relaxada. Dizer intelecto limitado, porém, não é o mesmo que
dizer que o ainda presidente seja burro ou falto de inteligência. Ele é a
elite dos burros!
Esta
ressalva é importante para a sua caracterização política. Ela revela no campo
da política um espírito adaptativo típico dos populistas bem sucedidos que
prosperam em situações de cultura estreita, de erudição nula e refinamento
intelectual escasso, usando com desenvoltura sua inteligência adaptativa. Em
suma, ele detém uma inteligência política do tamanho certo para uma cultura
política incipiente, como é o caso brasileiro. Lula é bem brasileiro neste
sentido; é majoritário nesta capacidade e neste mister de raposas, de astutos
e de espertos. Afinal, a marca do caipira é a esperteza.
Como
vêem, o problema da análise psicológica de Lula é que ela é melhor traduzida
a partir da sua estatura física, de sua estrutura material tosca, mais do que
de sua mente ou intelecto, ou do reino do abstrato. Quero assim enfatizar sua
figura ornada pelos trejeitos cênicos, a voz rouquenha e sibilante, seus
arroubos típicos que o levam rapidamente da simpatia à ridicularia de bufão
bajulado, sem que ele se dê conta disso; a composição da imagem que lhe
compõe gratuita e facilmente, o que inclui o nome, agora título. Seu nome,
Lula, é um codinome disso; um autocodinome. Lula é um símbolo do qual
queremos fazer um conceito para melhor entendê-lo. Para toda las gentes
és un simbolo. Mas um símbolo que é parte integrante desse conceito. Lula o
reverberou, o admitiu, o assimilou muito cedo na vida política. Compôs sua
maturidade nele, quando deveria estar fazendo ou construindo outros papéis
para si. “Lula” é uma grife, um logo, um simulacro. Sua “galega”, como se
referiu à sua mulher nos bons tempos de alegria, deve ter participado desse
entendimento e desta formação psicológica. Ela mesma foi maquiada e produzida
para reforçar este papel. Hoje, na crise, e não tenho dúvida, no sofrimento,
isso serve para realimentar a fantasia onde se escondem.
Hoje
o vemos como uma personalidade pública que sofreu uma manipulação artificial
no sentido de lhe criar um estofo social utilitário. Através da introjeção de
papéis políticos convenientes e necessários à ideologia socialista, se lhe
tornou possível a criação de uma finalidade, um sentido para a sua vida. Seu
psiquismo mais grotesco e bronco assim ganhou uma camada fina e removível de verniz
filosófico e político; uma pseudo-educação tardia, uma vocação imposta pelas
exigências dessa ideologia, ainda que incrivelmente deslocada. Lula se tornou
um socialista incapaz de ler o socialismo e ainda assim é contemplado com a
mais nobre e alta missão. Aliás, quando lhe perguntaram se era socialista,
ele se saiu pela tangente, dizendo-se torneiro mecânico apenas, fazendo
questão de se passar por alheio a essas sutilezas teóricas. Lula é uma
criatura onde foi inscrita uma missão política; deixada por si mesmo é nada,
é sonho puro, desejo, emoção. Se alguém pudesse fazer um clone dele, não
notaria a diferença dos dois.
O
aspecto psicológico mais visível de sua personalidade, assim, é a volição, um
elemento substancial na vida de qualquer político. Lula a tem em abundância.
É pura vontade de poder, ou melhor, poder de vontade, invertendo Nietzsche.
Vontade de ter e de comer. Tem no mais alto grau em si o voluntarismo,
confundindo-o com a vontade política da qual ouviu falar como
qualidade do político que faz, que constrói, ou modela. Ocorre, entretanto,
que tal qualidade contamina a personalidade sonhadora e fantasiosa, sua única
abstração. O resultado desse sistemático viver é a aposta permanente na
utopia, no reino do futuro, em um idealismo que lhe consome o pouco de razão
pensante de indivíduo primitivo.
O
menos visível, no entanto, e que somente agora se revela publicamente, são os
seus sentimentos pouco nobres: ressentimento, inveja, ódio. Notei antes o
odioso como componente de sua psique, como pathos que se
descarrega, que se dissipa, desculpável em qualquer homem. Mas aqui
o ódio que se deixa acumular lhe confere um valor ou caráter
negativo. Isso lhe dá um potencial para a maldade invejosa, a qual produz um
traço permanente de presença, uma ação obstinada que a causa socialista
requer, infunde, magnifica e justifica. No mesmo tom, a inveja, o sentimento
socialista por excelência, que Nietzsche tinha flagrado nos primeiros
cristãos diante do senhor romano, é uma constante psicológica, sua definidora
principal de personalidade. O ressentimento, comparado aos sentimentos
anteriores, é até brando em sua personalidade. Lula consegue dividi-lo mais
facilmente com os companheiros; é um sentimento que tende ao
compartilhamento, justo que reconhecível, diferente do ódio e,
principalmente, da inveja, esta, impossível de admissão consciente. De fato,
a inveja é sentimento que não se reconhece. Quando presente exige
dissimulação. É, neste sentido, a mãe da mentira. Lemos o espírito de Lula e
nele vemos a mentira como a mais registrada das marcas do socialista. Mentir
é uma segunda, diria, primeira natureza no socialista. Lula nem percebe isso
quando a confirma diuturnamente para si e para os outros. Mentir é o agir
principal do socialista. Mentir para si mesmo, contudo, revela distanciamento
da realidade, o que se vê mais claramente nos momentos críticos, como agora,
onde se faz a leitura de uma postura arrogante que arrosta a tudo e a todos a
partir de uma visão auto-elogiosa, imodesta, que começou com um: “ninguém
conhece esse país como eu”; que evoluiu para um “sou um homem sem pecado”; e
que, por enquanto, culmina no lamentável “neste país não existe ninguém que
possa me ensinar ética e honestidade”.
Mentiras,
fantasias, sonhos, abstrações infantis, mais um pathos de bonomia,
empatia, simpatia - de longe a característica mais conspícua e por tal
reconhecida popularmente -, e a identificação com o que é mais rude, mais
simples, mais chão, mais povo inculto: eis a cadeia e o círculo interior onde
vive e sobrevive. Entre elas a linguagem, cuja única fluência é no sentido
das futilidades da vida prática e cujo conhecer tende a ser anedótico,
lúdico, irresponsável e leviano. Deste provêm a profusão de bobagens ditas e
repetidas; jamais lidas, sempre toleradas pelos ingênuos, mas também pelos
mal intencionados cultos de que dele se valem; besteiras e asneiras que
nascem espontaneamente de dentro desse oco mental, em forma pura, não
burilada pela análise racional – mais sentido e percepção que conhecimento
processado. Porém, em sociedade e, em especial, na sociedade política, que o
habilita para o desejoso poder, tal limitação o torna presa dos mais
inteligentes, dos mais racionais, dos mais pensantes, que lhe ensinam a odiar
por maldade, como disse, algo que não lhe é inato.
Lula
é patético. É digno de pena. O povo reconheceu isso há muito tempo. O povo,
ele mesmo, é patético. Querendo agradar-lhe e de se ver nele, o fez
presidente de todos, infelizmente, mesmo sendo ele despreparado para a vida
de nós outros, pois que escassamente assim é para si. Agora Lula sofre o
passo mal dado, ousadamente mal dado, além da perna, do nariz, dos olhos e
dos ouvidos. Caminhou com o coração rude e sangüíneo, o qual, talvez lhe
bastasse, mas nunca a nós outros. O povo escolheu esse caminho por puro
engano, puro engodo e propaganda falsamente humanista. O resultado, agora
colhemos.
O
diagnóstico que agora construo dessa personalidade marcante e inesquecível
pelo dom que teve em arranhar a História e nela, à força, se inscrever,
apenas está começando. Muitos se debruçarão sobre o mesmo tema, medindo-o por
todos os seus lados visíveis e invisíveis. Porém, cada vez menos o lado do
imaginário que não deu certo, que se mostrou falso e inverídico. Lula como
homem não é uma farsa ou uma máscara. Ou é? Esta pergunta atende à diferença
que procuro ressaltar: Lula é facilmente desmascarável, desmentível,
desmistificável. Logo embaixo do verniz político está um homem simples demais
para ser nosso presidente; danosamente simples demais.* O que impressiona é
como isso pôde passar despercebido do imaginário popular. A intensidade do
fenômeno sociológico que a revolução de Gramsci foi capaz de fazer, explica
tudo, entretanto, embora Lula não seja a criação do gramscismo ou seu fruto,
verdadeiramente. Outros virão para cumprir o papel idealizado e então
veremos. Estamos a um passo da segunda ofensiva gramscista, de um novo ciclo
revolucionário; um verdadeiro teste para o socialismo tropical do qual até
agora Lula foi o animal político mais representativo.
* Pelo simples
fato do povo (massa) que elege, ser pior que êle .