CLAUDIO DE MOURA CASTRO REVISTA VEJA
Casos de suborno a guardas de trânsito ou a pessoas que “tiravam” multas do Detran eram assuntos de mesa de bar. E abundavam as contratações arbitrárias de professores e funcionários públicos. Era o esperado. Ao longo dos anos, houve uma redução muito acentuada de tais eventos. Alguns até desapareceram. Na experiência das pessoas com quem convivo e na minha própria, o trato desonesto com o governo praticamente inexiste. Aliás, presidi uma Capes que só dava bolsas por mérito. O progresso do país em reduzir a corrupção do cotidiano foi nada menos que espetacular.
A Universidade Vanderbilt faz uma pesquisa anual sobre corrupção em 29 países das Américas. Uma das perguntas é se, no ano anterior, os respondentes tiveram algum encontro pessoal com corrupção (não apenas ouvir falar).
Confirmando minha percepção, apenas 11% tiveram tais experiências. O Brasil está na companhia do Chile, Costa Rica e Uruguai, os países de menor ocorrência dessa corrupção. Em contraste, no México e no Paraguai o índice está por volta de 30%.
No entanto, quando os brasileiros são indagados acerca do que acham dos políticos, nossa resposta é furiosa. Aqui, 84% acham que seus dirigentes são corruptos. Essa é a pior avaliação entre os países.
Em suma, o cidadão comum convive com pouca corrupção no seu entorno e fica enfurecido com sua existência endêmica entre os dirigentes de empresas e governo.
O lado ruim é que não há como negar a existência dessa corrupção de “cachorro grande”. Igualmente corrosiva, ela é uma poderosa causa de desencanto da sociedade. O povo rumina fel e sente-se derrotado.
O lado bom é que reduzimos muito os deslizes do cotidiano, ao contrário da maioria dos países da América Latina. Não se trata de uma façanha menor, pois representa avanços que afetam a quase todos. Também positivo é que não há complacência com a corrupção nas grandes empresas e no governo. O povo quer vingança, quer cadeia.
Talvez, por não conviver mais com a corrupção do cotidiano, a sociedade se torne mais intransigente com a sua existência frondosa no andar de cima. Vale lembrar: nas regiões mais atrasadas, onde a regra é o favor e não a aplicação das regras, há muito menos rejeição dos homens públicos lambuzados com bandalheiras. Quem sabe do futuro, sobretudo nesses assuntos? Mas não pode atrapalhar o exemplar expurgo da corrupção que afeta nosso cotidiano e a grande hostilidade diante do que vem à tona na mídia.
extraídadeavarandablogspot
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