por Rodrigo Botero Montoya O Globo
A tragédia do povo venezuelano, cuja dimensão excede os superlativos, se
converteu num problema hemisférico de primeira ordem. Sua manifestação
visível é o êxodo migratório massivo. Os venezuelanos estão expressando
seu repúdio ao socialismo do século XXI, votando com os pés. À emigração
inicial de empresários, técnicos petroleiros, profissionais e
acadêmicos, se agrega agora a de um grupo numeroso de pessoas com baixo
nível de capacitação, que podem ser considerados refugiados econômicos.
O manejo desta situação pela comunidade internacional é dificultado pela
própria natureza de um regime que se autodenomina revolucionário, mas
se converteu numa associação para delinquir. O regime de Nicolás Maduro
se nega a reconhecer a existência de uma crise e recusou as ofertas
externas de assistência humanitária. Com um processo de demolição que
reduziu à metade o tamanho da economia em cinco anos, o governo
intensificou a repressão. O exercício crescentemente militarizado da
autoridade pode ser descrito como despotismo temperado pela inépcia.
Qualquer solução de fundo para esta tragédia tem como premissa básica a
mudança de governo. Esta é uma responsabilidade que compete
exclusivamente aos venezuelanos. Há indícios de que a experiência de
engenharia social denominada Revolução Bolivariana se aproxima de uma
fase terminal, por ser insustentável. Assim o sugerem a degradação da
qualidade de vida, a hiperinflação e o colapso das finanças públicas.
Diz-se que as falências ocorrem de forma gradual, e em seguida de
maneira súbita. O que é difícil de prever é a data na qual ocorrerá o
desenlace e as circunstâncias nas quais terá lugar. Em um ambiente
melancólico de fim de regime, o governo trata de aparentar normalidade,
enfrentando o isolamento, a irrelevância e o repúdio externo
generalizado.
Enquanto se sucede o previsível desmantelo político, a comunidade
internacional poderia contribuir de imediato para aliviar o sofrimento
da população. O apoio à reconstrução de uma nação que esteve submetida
ao saque por parte de seus caudilhos seria uma etapa posterior, que
pressupõe a existência de um novo governo.
Ante a impossibilidade de abrir um canal humanitário para levar
alimentos e remédios à população, a comunidade internacional poderia
estabelecer um programa a favor dos venezuelanos que estejam tentando
emigrar. A ideia seria propor que Canadá e seis países latino-americanos
grandes — Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru — ofereçam
acolhimento, no total, a um milhão de refugiados venezuelanos num prazo
não maior do que 12 meses. Cada um dos sete países se comprometeria a
aceitar uma determinada parcela do total, negociada em função de sua
população e tamanho de sua respectiva economia. Isto contribuiria para
formalizar um processo que está ocorrendo de forma desorganizada, e às
vezes ilegal, colocando um peso desproporcional do impacto sobre uns
poucos países. Esta iniciativa daria efetividade às manifestações de
solidariedade internacional ao povo venezuelano.
Rodrigo Botero Montoya é economista e foi ministro da Fazenda da Colômbia
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