Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

"Prefeito ímprobo",

 por Ascânio Seleme O Globo

 O que ainda falta para o prefeito Marcelo Crivella ser afastado das suas funções? Se fosse pelas ausências constantes, ele deveria ter caído ainda no primeiro trimestre de seu governo. Por inépcia, inaptidão ou má gestão, seu mandato deveria ter sido interrompido antes da metade do ano passado. Se mentirinhas fossem suficientes, o prefeito teria perdido a condição de governar antes do fim de 2016. Agora, por mentiras grandes, oficiais e repetidas, Crivella deveria ser impedido imediatamente.
O carioca já estava se acostumando com aquela voz macia, pausada, aquele jeito de homem de bem, meio sonso, mas de bem, aquele sorrisinho de quem sabe mais do que você, mais para metido do que para simpático. Até com as mentirinhas de Crivella o carioca já estava se acostumando. Pareciam mais algumas das bobagens inócuas de um prefeito sem graça e sem iniciativa. Mas de repente, não! O carioca se deu conta de que o acúmulo destas mentiras é, na verdade, um absurdo, um abuso. Sobretudo quando as mentiras implicam prejuízos para a cidade e para o cidadão.
Primeiro, quando flagrado por Bruno Astuto embarcando em Cumbica para uma viagem para a Europa em pleno carnaval, disse que aproveitava “a folguinha” para conhecer tecnologias de drones e satélites que pudessem melhorar a segurança do Rio. Dá vontade de rir, não dá? Depois, já de volta, insistiu nesta mentira, e pregou outra, disse que a viagem não tinha caráter oficial. Oras, o prefeito viaja para o exterior, com outros dois funcionários públicos, para, segundo ele, trazer ideias para a segurança da cidade e o faz em caráter privado. Fala sério.
Ele que se explique ao Ministério Público do Rio, que abriu inquéritos para investigar esta e outras viagens suas ao exterior. Ao MP é que ele deve apresentar as notas das passagens que comprou para si e seus acompanhantes. E também as contas de hotéis, e os comprovantes de desembolsos que fez, na data correta, não valem reembolsos, para custear isso tudo. Duvido que consiga convencer os procuradores. Aos cidadãos do Rio ele já não convence há muito tempo. O Tribunal de Contas do Município também quer explicações.
Mesmo antes de tomar posse, o prefeito já dava sinais de como seria sua gestão. Entre a eleição e a posse, Crivella viajou para o exterior ignorando o rito da transição. Ele não fez a sua parte, nem nomeou uma equipe para se desincumbir da tarefa em seu nome. O então prefeito eleito de São Paulo, João Doria, visitou Paes antes de Crivella para conhecer experiências que deram certo.
Sobre esta viagem do carnaval, procuradores do MP querem saber por que ele não solicitou à Câmara de Vereadores autorização para se ausentar. E se produziu, está produzindo ou vai produzir um relatório da viagem, como manda a lei. Para entender o que é uma viagem a trabalho, mas em caráter particular, talvez a explicação da Agência Espacial Europeia (ESA) faça sentido. A ESA disse a Graça Magalhães-Ruether que a visita de Crivella teve “caráter puramente privado” e que o prefeito tentou fazer “badalação” com a viagem.
Outro time do MP investiga Crivella por omissão e improbidade administrativa. Ele teria menosprezado o carnaval, a principal data do calendário de festas do Rio, além de cuidar mal da sua preparação. Ao não participar do evento, o prefeito teria depreciado o patrimônio imaterial da cidade. Isso significa, em outras palavras, perda econômica para o município por negligência de seu principal mandatário.
O Ministério Público apurou que o distanciamento do prefeito antes do carnaval resultou em uma relação precária ou nenhuma com outros órgãos da administração pública envolvidos com o evento. Os órgãos da segurança, por exemplo, a cargo do governo do estado, sequer foram chamados para participar dos preparativos da festa. Nos anos anteriores, eles tinham até mesmo poder de veto sobre locais e horários de desfiles de blocos. 
Obviamente, esse afastamento resultou na precarização da segurança. E explica a bagunça que se viu nos blocos.
Como se tudo isso não bastasse, aparece agora o caso da cirurgia da mãe do Crivella feita num hospital público municipal que tem filas de espera para todos os não parentes do prefeito.
Crivella foi eleito democraticamente. Ganhou de forma legal, nos dois turnos, a eleição de 2016. No segundo, como manda a Constituição, com mais da metade dos votos válidos. Se o Rio quiser livrar-se dele, terá de fazê-lo também pela via democrática. E são dez os casos em que ele pode ser considerado criminoso e sofrer um processo no Tribunal de Justiça depois de autorização da Câmara dos Vereadores. Um deles justamente por atentado à probidade administrativa.

Ascânio Seleme é jornalista






































extraídaderota2014blogspot

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