Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 4 de maio de 2017

"Desmedidas do PT para a economia",

por Roberto Macedo O Estado de São Paulo

 No último dia 24 o PT anunciou “Seis Medidas Emergenciais para a Recuperação da Economia, do Emprego e da Renda”. Lula foi à reunião em que o pacote foi anunciado. Vi desmedidas entre as seis, pois revelam descomedimento e imprudência, desrespeitando regras condizentes com a realidade econômica do País.
Na realidade, são 29 propostas em seis grupos: proteger os trabalhadores na crise, seus direitos e patrimônio; fortalecer empresas brasileiras para gerar empregos de qualidade; recuperar a capacidade de investimento do Estado em todas as esferas; investir em infraestrutura para uma economia dinâmica e eficiente; redução estrutural dos juros e recuperar o papel central da Petrobrás. Exceto neste caso, em que nesse papel houve muito que não cabe recuperar, são propostas que não levantam sobrancelhas.
Mas isso não ocorre com muitas das 29 mais detalhadas, pois ignoram as dificílimas condições em que se encontra a economia brasileira, deixadas pelo próprio partido e centradas num enorme déficit fiscal, que levou a um sério agravamento da dívida pública federal. Isso causou desconfiança e medo entre agentes econômicos, que, receosos dos desdobramentos futuros desse quadro fiscal, contiveram suas decisões de consumir e investir, prejudicando assim a atividade econômica.
Entre outros desajustes, houve também intervenções setoriais equivocadas, em geral para conter preços artificialmente, com propósito eleitoreiro. Mas pós-eleição veio a necessidade de corrigi-los, o que contribuiu para o último impulso inflacionário verificado no País.
Das propostas, 12 implicam expansão dos gastos públicos. Em tese, justificáveis pela ideia de que o governo deve praticar política fiscal anticíclica, expandindo gastos nas recessões e contendo-os nas fases de expansão, assim acumulando reservas para eventuais períodos recessivos. Mas os governos petistas não deixaram nenhum espaço para essa política no momento, pois se marcaram pela gastança em qualquer circunstância, deixando a situação fiscal muito desequilibrada e carente de indispensável correção.
Para permitir expansão de despesas governamentais o PT propõe revogar a emenda constitucional que impôs um teto para gastos públicos, tudo indicando que, na avaliação de suas cabeças partidárias, mais gastos impactando a dívida pública podem ser realizados mesmo nas condições atuais. Ora, uma lição básica dos manuais de economia – e é também uma questão de bom senso – é que pessoas, famílias, empresas, governos e outras instituições devem obedecer a uma restrição orçamentária, como o referido teto, sem o que viriam mais dificuldades. Como vieram quando Dilma Rousseff se excedeu em disparates fiscais que provocaram seu próprio impedimento. E ficou sua herança maldita.
Suponhamos que Lula, ou mais um poste que pretenda plantar, como fez com Dilma em 2010, seja eleito presidente em 2018. Com essas desmedidas que o PT propõe, os agentes econômicos veriam agravados seus temores quanto ao futuro, de novo com impacto negativo sobre suas decisões de consumir e investir e implicações recessivas para a economia. Viria outra Carta ao Povo Brasileiro, prometendo comedimento temporário, para depois passar às desmedidas com que Dilma se destacou?
Também levanta sobrancelhas, por outra razão, a proposta de “aumentar o comércio Sul-Sul, principalmente os Brics”. Ora, esse grupo inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, mas os três grandões que compõem o RIC do seu nome ficam no Hemisfério Norte. Assim, no contexto do Brics, o que restaria para a ênfase no comércio Sul-Sul seria apenas a África do Sul.
Voltando à inconsistência entre aumento de gastos públicos e as circunstâncias atuais do governo e da economia, ela poderia ser apontada como uma dificuldade decisória, conforme identificada pelo psicólogo Daniel Kahneman, Nobel de Economia em 2002. Ele argumenta que o processo de decisão envolve dois sistemas mentais. O primeiro é instintivo, rápido e as pessoas às vezes decidem conforme hábitos arraigados e informações mal interpretadas por vieses comportamentais, o que as leva a uma racionalidade limitada. O segundo sistema é mais racional, analítico, e toma mais tempo, produzindo decisões melhores, pois bem informadas e articuladas na sua lógica.
Diante das circunstâncias que levaram às desmedidas, as reflexões que as produziram no âmbito do PT teriam sido limitadas ao primeiro sistema. No passado, o PT adotou políticas econômicas sem refletir muito sobre as circunstâncias em que eram inseridas e sobre os seus resultados. Deu no que deu no governo Dilma, e as novas propostas desmedidas indicam que o partido não aprendeu com as lições do passado.
Mas também foi com o primeiro sistema que cheguei a essa conclusão. Recorrendo ao segundo, percebi que o PT se orienta por um objetivo maior, o poder político, pois o que acaba de anunciar mais parece um pacote populista para atrair apoio de incautos e voltar ao governo.
Mas de uma coisa ele não escaparia, pois mostra não saber como tirar o País de dificuldades, dispondo-se até mesmo a agravá-las. E tudo indica que uma nova carta ao povo não resolveria o problema, pois ao contrário da primeira provavelmente não encontraria uma economia logo depois impulsionada por melhor desempenho da economia mundial, particularmente da China, permitindo que Lula gastasse mais com uma receita expandida sem violar o compromisso da carta.

Nessas condições, quem também precisa refletir sobre os dois sistemas de Kahneman é o próprio cidadão. E recorrer ao segundo, e não ao primeiro, com o qual de novo cairia nas ilusórias promessas do PT, ignorando os muitos males que esse partido já causou à economia e os novos que adviriam quando ele se propõe, em síntese, a repetir uma trágica história de fracasso.



















extraídaderota2014blogspot

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