editorial do Estadão
O balanço da administração do prefeito Fernando Haddad é melancólico, para dizer o mínimo, como já esperavam os que a acompanharam com atenção, sem se deixar impressionar pelo brilho passageiro e enganador de suas tiradas demagógicas. Constata-se, com dados objetivos, mostrados em reportagem do Estado, como é grande a distância que separa a realidade nua e crua das hábeis jogadas de marketing – nisso não se pode negar seu mérito – com que tentou criar a imagem de governante moderno e atento às necessidades da maioria da população.
Ele cumpriu apenas 66 das 123 (53%) metas do plano apresentado no início de seu governo, um desempenho ligeiramente inferior ao de seu antecessor, Gilberto Kassab (55%). Mas isso é o de menos. Muito mais importante que esses números é o que está por trás deles. Quase nenhum governante consegue mesmo cumprir, como é sabido, a maioria das suas promessas. Se aqueles 53% se referissem a ações em áreas de real interesse para a maior parte dos paulistanos, o resultado da administração de Haddad não seria tão ruim.
Mas não foi isso o que aconteceu. Mais da metade das metas atingidas diz respeito a medidas administrativas, como, por exemplo, a aprovação de programas e a criação de Secretarias, de conselhos e da Subprefeitura de Sapopemba. A aprovação da revisão do Plano Diretor e da Lei do Zoneamento é sem dúvida importante para a cidade, mas nesse caso o mérito do prefeito tem evidentemente de ser dividido com a Câmara Municipal.
O que os paulistanos esperavam de Haddad é que dedicasse a atenção prometida aos setores sociais, dos quais ele e seu partido, o PT, se dizem os campeões. Afinal, esse foi o ponto forte de sua campanha. Pois foi exatamente aí que fracassou. Cumpriu inteiramente apenas um dos sete compromissos assumidos na área da saúde (a instalação de uma unidade da Rede Hora Certa em cada Subprefeitura); dois dos sete na educação; e nenhum dos três na habitação. Na educação, aumentou o número de convênios com creches, o que já vinha sendo feito por governos anteriores, mas o número de crianças esperando vagas continua nas alturas – 133 mil.
A isso foram relegados os dois pilares, educação e saúde, de qualquer política social realmente séria, que não se limita aos benefícios ilusórios e precários do populismo. Os mesmos aos quais o PT – de Haddad a Lula da Silva e Dilma Rousseff – não se cansa de jurar fidelidade, mas que, quando chega ao poder, relega a segundo plano, como acaba de ficar mais uma vez evidente na capital paulista, como já ficara no plano federal com o abandono do SUS, para citar apenas o caso mais flagrante. A população carente que deles depende é esquecida depois das eleições.
Em vez de cuidar do importante, Haddad se dedicou de corpo e alma ao brilhareco de acrobacias de baixo custo e retorno modesto e mais do que discutível, quando existe. Implantou às carreiras, sem estudos e planejamento, uma rede de mais de 400 km de ciclovias e outro tanto de faixas exclusivas de ônibus. Tudo em meio a uma bem orquestrada campanha para apresentar ambas como peças de uma “revolução” na mobilidade urbana, centrada na falsa oposição entre o automóvel – responsável por boa parte dos deslocamentos, que a curto prazo não têm como ser absorvidos pela precária rede de ônibus e metroferroviária – e o transporte coletivo.
Que a prioridade deve ser este último ninguém contesta. Mas não é com espalhafatosas ciclovias em sua maioria entregues às moscas e com faixas de ônibus, que garantiram ganhos mínimos na velocidade desses veículos, que se consegue melhorar o transporte coletivo. Para isso, o que Haddad poderia e deveria ter feito é construir os corredores prometidos – único ponto positivo de seu programa de transporte –, cuja maioria ficou no papel.
Fernando Haddad também lega a seu sucessor – e aos habitantes de São Paulo – uma cidade suja e esburacada como raras vezes esteve.
Não admira que o povo, que não é bobo, tenha feito com Haddad o que fez nas eleições.
extraídaderota2014blogspot
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