AÉCIO NEVES FOLHA DE SP
Entre vencedores e
vencidos, as eleições que se encerraram domingo apontam para um resultado
consensual: há uma evidente crise da representatividade política no
elevado número de votos nulos e brancos, considerando as duas etapas do
pleito. Nunca tantos deixaram de fazer suas escolhas partidárias para
expressar o inconformismo com a política tradicional. Este voto de
negação precisa ser entendido para que possamos acelerar o esforço para
reconquistar a confiança dos cidadãos.
O desgaste da democracia
representativa não é um fenômeno brasileiro. Muitos países enfrentam
essa crise, o que faz emergir, na cena pública global, personagens e
grupos que se projetam por ostentar o discurso da antipolítica. Isso é
particularmente grave no Brasil, onde a nossa jovem democracia vive suas
primeiras décadas de amadurecimento.
Desde os acontecimentos que
sacudiram as ruas do país em 2013, o descompasso entre cidadãos e seus
representantes na vida pública se agravou. As denúncias de corrupção e
as revelações da Operação Lava Jato, o processo de impeachment da
ex-presidente Dilma e a crise que destruiu a economia e os sonhos de
milhões de brasileiros ajudaram a multiplicar a descrença e o desalento.
Como resposta a esse estado de coisas, nada mais inútil e
manipulador que a simples negação da política, já que esta se constitui
no território do debate e do diálogo que sustentam o ambiente
democrático.
Este é o momento de resgatar a boa política,
revesti-la de significado para os que anseiam por maior participação.
Naturalmente, os partidos precisam se oxigenar e se aproximar mais da
vida real. A coletividade consegue hoje se organizar e se expressar em
canais muito diversos. São movimentos legítimos e, por isso mesmo,
precisam caminhar de forma articulada com a representação política. Fora
do campo político, o que há é o autoritarismo e a intolerância.
É
essencial avançar na reforma do sistema político e eleitoral no país. A
fragmentação partidária —o Brasil tem nada menos que 35 partidos
registrados no TSE e dezenas de outros a caminho—, o sistema eleitoral
que dificulta as relações entre candidato e eleitor, e o mecanismo de
financiamento das campanhas são questões que precisam ser vistas com
urgência e responsabilidade. Já tramita no Congresso uma proposta de
minha autoria e do senador Ricardo Ferraço que prevê uma cláusula de
desempenho eleitoral capaz de inibir o número de partidos, expurgando
aqueles que servem apenas como legendas de aluguel.
A democracia
é um patrimônio da sociedade. Ainda que imperfeita, é a única garantia
de que a pluralidade de vozes será respeitada. E não há nada que a
fortaleça mais do que o exercício da boa política.
quarta-feira, 2 de novembro de 2016
Nunca tantos deixaram de fazer suas escolhas partidárias -
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