GUSTAVO URIBE BELA MEGALE Folha de São Paulo
Acarajé, bacalhau, vinho, charuto, oxigênio e pixuleco. Não faltam nomes criados por envolvidos no esquema de corrupção investigado pela Lava Jato para se referir a dinheiro em espécie ou propina.
Na tentativa de não se incriminar em eventuais grampos telefônicos, detidos pela Polícia Federal se desdobraram em apelidos para camuflar atividades irregulares, aprimorando o glossário do crime.
Os verbetes reunidos em dois anos e oito meses, desde a deflagração da primeira fase da Lava Jato, variam de prato típico baiano até gíria que era utilizada pela malandragem carioca.
Duas novas alcunhas foram incorporadas na última quinta-feira (17), em operação que prendeu o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral. Segundo a Polícia Federal, secretários estaduais da gestão passada se referiam a dinheiro como "oxigênio" e "bacalhau".
A temática culinária também inspirou funcionários da empreiteira Odebrecht. Os recursos em espécie usados no pagamento de propina eram chamados de "acarajé". A escolha da palavra gerou inclusive saia justa em um evento governamental.
No dia seguinte à divulgação do apelido, em uma demonstração de timing político equivocado, o Palácio do Itamaraty serviu a iguaria baiana em coquetel, gerando comentários irônicos de autoridades presentes.
Outro ingrediente servido à mesa foi adotado pelo ex-diretor da Petrobras Renato Duque. Além de "fumar um charuto", ele usava a expressão "tomar um vinho" quando queria se encontrar com um operador para receber propina de contratos.
MALANDRAMENTE
Em vez de escolher uma bebida ou um prato, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto optou por uma gíria usada pela malandragem carioca.
Segundo o empreiteiro da UTC Ricardo Pessoa, o petista usava a palavra "pixuleco" para falar sobre a propina que recolhia das empresas com contratos com a Petrobras.
O nome deriva da palavra "pixulé", sinônimo de "dinheiro miúdo e roto" e citada pelo escritor e jornalista João Antônio (1937-1996), que se notabilizou por retratar o cotidiano carioca.
Já o empreiteiro da OAS Léo Pinheiro preferiu adotar a expressão "projeto alcoólico". Ele a utilizou em mensagem para se referir ao depósito de R$ 350 mil que seria direcionado ao ex-senador Gim Argello na época da instalação da CPI da Petrobras.
A criatividade dos investigados levou a Polícia Federal a adotar os apelidos para nomear fases da Lava Jato, como "Acarajé" e "Pixuleco".
O hábito de usar sinônimos para camuflar a palavra propina é anterior à Operação Lava Jato, contudo. Em 2012, agentes da PF relataram que o grupo do empresário de jogos Carlinhos Cachoeira se referia ao dinheiro como "assistência social".
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