EDITORIAL ESTADÃO
O Brasil bate a maior parte da América Latina em três quesitos nada invejáveis – a inflação, a dívida pública e a contração da atividade econômica. A dívida bruta do setor público brasileiro chegou no ano passado a 66,5% do Produto Interno Bruto (PIB), quase o dobro da média latino-americana, de 35,9%, segundo o novo panorama regional publicado esta semana pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). Conter o endividamento, reflexo da enorme desordem das contas oficiais, será o maior desafio para o governo brasileiro nos próximos anos. Reconhecer o tamanho do problema foi o passo preliminar. O seguinte foi a proposta, em exame no Congresso, de um teto para a despesa governamental. Entre os latino-americanos mais endividados aparecem, na lista da Cepal, a Argentina, com um índice de 52,3%, e o Uruguai, com 46%. Entre os menos endividados ficaram o Peru (16,6%), o Chile (17,5%) e a Bolívia (27,1%). Os dois maiores países do Cone Sul obviamente prejudicaram, e muito, a média regional.
Se a comparação for feita com emergentes da Ásia, o endividamento público brasileiro poderá parecer uma aberração. Se o confronto for feito com países avançados da Europa, a situação brasileira poderá parecer confortável, pelo menos para os menos informados. Na zona do euro, no primeiro trimestre deste ano, a dívida bruta correspondeu em média a 91,7% do PIB. A presidente Dilma Rousseff preferia esse tipo de referência. Mas o Brasil tem pago mais de 8% do PIB como juros da dívida. Esse custo ficou próximo de 4%, no ano passado, para Itália e Grécia, países com endividamento superior a 120% do PIB. Na França ficou perto de 2%. Em alguns, em torno de zero.
Se a comparação envolver outros dados econômicos, ficará ainda mais visível o desastroso efeito acumulado em anos de políticas irresponsáveis e incompetentes. A economia europeia cresce desde 2014, a inflação é quase nula e o desemprego médio é inferior aos 11,2% estimados no Brasil. Na América Latina poucos países têm sofrido inflação tão intensa quanto a brasileira e um número ainda menor exibe maior desajuste de preços. As economias mais dinâmicas da região têm crescido a taxas médias na faixa de 4% a 6% ao ano. Perderam impulso recentemente, principalmente por causa da queda dos preços de seus produtos de exportação, mas ainda avançam.
Pelas novas projeções da Cepal, o PIB do Brasil deve diminuir 3,5% em 2016, depois de um recuo de 3,8% no ano passado. Pelo menos o primeiro semestre, pelos dados já conhecidos, confirma a expectativa de um ano ruim.
As estimativas para a América do Sul indicam um resultado negativo de 2,1%, mas esse número reflete principalmente o desempenho de quatro países. Os outros três são a Argentina, com retração prevista de 1,5%, Equador, com perda de 2,5% no valor do PIB, e Venezuela, com um desastre de 8%.
Mas a retração argentina deve ser consequência do ajuste iniciado pelo novo governo, depois da longa fase de desmandos da presidente Cristina Kirchner. No Equador, as perspectivas são influenciadas tanto pelo preço do petróleo quanto pela valorização do dólar, sua moeda, um fator negativo para a competitividade. Quanto à Venezuela, enfrenta o quarto ano consecutivo de recessão, efeito natural e previsível de um governo catastrófico. Chile, Colômbia, Paraguai, Peru e Bolívia continuarão com taxas positivas, entre 1,6% e 4,5%.
Em nove páginas dedicadas ao Brasil, o relatório resume a evolução da economia e da política econômica neste ano, com descrição das principais medidas de recuperação definidas pelo governo provisório. Na análise do ano passado, o destaque foi para “a permanente diminuição do investimento”. O valor investido em ativos fixos, isto é, em máquinas, equipamentos e obras, foi 14,1% menor que o do ano anterior, quando já havia diminuído 4,1%. Daí a importância, apontada em outra passagem, de um novo ciclo de concessões e de privatizações para deslanchar a recuperação da capacidade produtiva.
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