por Ruy Fabiano Com Blog do Noblat - O Globo
Em relação à crise político-criminal em curso, os lados em litígio
unem-se em torno de um mesmo refrão, que soa como um solene apodítico:
as instituições estão sólidas e garantem a lisura do processo
democrático. Estão?
No Tribunal Superior Eleitoral (TSE), há pelo menos três ministros –
Dias Toffoli, Luciana Lóssio e Maria Theresa Moura – que, antes de lá
chegarem, foram advogados do PT, atuando, inclusive, em campanhas
eleitorais.
São agora chamados a julgar contas e atos de campanhas eleitorais de
seus ex-clientes, sem que nenhum se ache nem remotamente suspeito para
fazê-lo. Ninguém argui também essa óbvia suspeição. A ministra Luciana
Lóssio chegou a pedir vistas do processo que, com maioria já
estabelecida, instaurava investigação das contas da campanha de Dilma,
acusada pela Lava Jato de receber doações de dinheiro roubado da
Petrobras.
Diante das pressões da sociedade, e tão somente por isso, acabou devolvendo o processo e as investigações foram abertas.
No Supremo Tribunal Federal (STF), fala-se em “bancada do PT” – e a
imprensa acostumou-se, com a maior naturalidade, a avaliar previamente o
resultado das votações, com base nesse pressuposto. Tem acertado.
No Superior Tribunal de Justiça (STJ), o quadro não é diferente. Fala-se
em “ministros do PMDB, do PT”, e repete-se, com eficácia, o exercício
adivinhatório que precede as votações.
A recente nomeação do desembargador Marcelo Navarro, que não encabeçava a
lista tríplice – e a praxe é nomear quem a encabeça -, gerou polêmicas
de fundo político-partidário.
No Ministério Público, dá-se o mesmo, e o protagonismo presente do órgão
evidencia o problema. O procurador-geral, Rodrigo Janot, até aqui, não
denunciou nenhum político do PT – nenhum! - em decorrência das delações
premiadas da Lava Jato, que tem o partido como carro-chefe da
roubalheira na Petrobras.
Entre outros, foram denunciados pelos delatores ao juiz Sérgio Moro dois
ministros de Estado, Edinho Silva e Aloizio Mercadante. A própria Dilma
foi denunciada por nada menos que seis delatores em busca de premiação.
O procurador, no entanto, não se manifestou. Mas não hesitou em
denunciar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, cuja atuação tem sido
contrária aos interesses do governo, e o senador José Agripino Maia,
presidente do DEM, que, por óbvio, não participou do Petrolão. Seu caso
é, comparativamente, de propina miúda.
Não que essas denúncias sejam infundadas, ou que não devessem ser
feitas, mas não se comparam, em gravidade, extensão e profundidade com
as que envolvem a turma do PT.
O que se questiona não são as denúncias feitas – de Cunha e Agripino -,
mas as não feitas. Tem-se, digamos assim, a impressão de uma
investigação seletiva, que busca obstar o processo de impeachment.
Seletiva é também a indignação do pessoal do PSol e adjacências, que
investe contra Cunha e simultaneamente finge ignorar a situação dos dois
ministros de Dilma – e ela própria - envolvidos em denúncias bem mais
cabeludas.
Cunha, em face da denúncia, está, segundo eles, moralmente
incompatibilizado com o exercício do cargo; Edinho Silva e Mercadante
(para não falar da própria Dilma), não. ???!!
Nenhum dos críticos de Cunha, até aqui, se escandalizou com a informação
de que Lula, no exercício da presidência da república, vendeu uma
medida provisória à indústria automobilística, a 471, prorrogando a
vigência da isenção do IPI.
A transação rendeu aos lobistas intermediários – em que se inclui um
filho de Lula, Luís Cláudio – nada menos que 36 milhões de reais, quase
quatro vezes o valor dos depósitos de Cunha em bancos suíços (US$ 2,4
milhões, segundo a denúncia).
Se as instituições tivessem a solidez que se propaga, o PT, que comandou
o Petrolão – e a rapina até aqui, segundo disse ontem o procurador
Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, deve superar
os 20 bilhões de reais, a maior da história da humanidade, segundo o
The New York Times - teria a precedência nas denúncias.
Mas não é o caso, o que indica, ao contrário do que se diz, o
aparelhamento das instituições. E acaba gerando um quadro bizarro: de um
lado, os governistas, investindo contra os malfeitores que os incomodam
– e apenas contra estes; de outro, a oposição investindo na defesa
desses mesmos malfeitores, na expectativa de que apressem o impeachment.
Um enredo perfeito para um filme cujo título seria “Meu bandido
favorito”.
Não há dúvida: as instituições estão funcionando – só que pelo avesso.
extraídaderota2014blogspot





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