por Paulo Guedes O Globo
A reforma ministerial é uma ritual de cooptação em defesa do mandato. E a veilha ordem fatia as investigações, em fuga rumo às sombras
A dança dos Três Poderes prossegue. Como deveria ser na sociedade aberta
em construção. O Executivo reage sob pressão do agravamento de uma
crise econômica resultante de suas próprias lambanças. Tenta aprovar no
Congresso um ajuste fiscal à base do aumento de impostos. Segue
politicamente enfraquecido e juridicamente ameaçado em meio às
investigações que revelam indícios de uma cleptocracia.
Os representantes no Legislativo dançam ao som de ritmos diferentes. Os
partidos de oposição ouvem o som das ruas. A incompetência e a corrupção
despertaram a indignação popular, encorpando as propostas de
impeachment. Os partidos da base do governo são atraídos pelos sons das
ofertas de cargos e promessas de verbas orquestrados em defesa do
mandato presidencial. Os mais experientes oposicionistas sabem que um
impeachment agora transformaria o PT em oposição antes de seu
dilaceramento nas urnas. Sabem também que devem apoiar medidas fiscais
impopulares para manter o país solvente, enquanto os governistas são
fritados ao sol inclemente da opinião pública.
Os mais experientes situacionistas apoiam apenas moderado ajuste fiscal
que lhes garanta a sobrevivência, deixando seus patos novos mergulharem
cada vez mais fundo em busca de cargos e verbas. A reforma ministerial
em curso é um ritual de cooptação do baixo clero.
A cúpula do PMDB anuncia cada vez mais alto sua independência política,
seu inédito desapego ao loteamento dos ministérios e um revigorante
alinhamento com a opinião pública no repúdio ao aumento de impostos.
O despertar do Poder Judiciário anuncia novos tempos. O Brasil não quer
mais ser uma república das bananas. A classe política não pode estar
acima da lei, e, se achar que pode, não deve dormir em paz. O julgamento
da História começa a se esboçar ante o acúmulo de evidências de
corrupção sistêmica. Já está claro para a opinião pública que Joaquim
Barbosa tinha um pé no futuro. Seu fervor republicano contra degeneradas
práticas políticas transborda agora para todos os níveis da
administração pública. Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e seus jovens e
competentes colaboradores são as forças de nosso aperfeiçoamento
institucional. A velha ordem recua em fuga rumo às sombras. Fatia as
investigações em busca de fôlego.
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