por Igor Gielow Folha de São Paulo
A queda de Aloizio Mercadante da Casa Civil é
a capitulação final da presidente reeleita em 2014. Dilma Rousseff fez,
enfim, o movimento mais esperado e difícil em sua luta para começar um
novo governo com ela ainda na cadeira.
Na balança, a ideia de que apenas a entrega de mais poder ao PMDB e aliados laterais,
aliada à cabeça simbólica de Mercadante a ser despachada de volta para a
Educação, será capaz de barrar o ímpeto do Congresso de impedir a
impopular presidente.
A degola do ministro, figura odiada por nove e meio entre dez políticos
de Brasília, também agrada ao principal interessado nos rumos do governo
que morreu antes de começar: o chefão petista Luiz Inácio Lula da
Silva.
O ex-presidente, ainda que já tenha tido Mercadante em sua chapa uma
vez, nunca gostou do ministro. Se exprime isso por convicção ou
pragmatismo, é outra questão, mas o fato é que Lula passou o ano
insistindo na tecla de que o ministro era o principal problema da
Esplanada.
Lula, dono do maior faro político do país, estava certo. Todas as ideias
ruinosas que inviabilizaram o governo Dilma-2 na política passaram pelo
ministro, a começar pela tentativa de implosão do poder peemedebista
ainda durante as comemorações da reeleição.
As agruras da presidente no setor, que apenas tornaram impossível
executar em tempo o ajuste que talvez pudesse ter aliviado o desastre
econômico em curso, começaram quando o Planalto resolveu eleger aliados
como o PSD de Gilberto Kassab para esvaziar o PMDB. O paroxismo do
processo ocorreu na disputa pelo comando da Câmara dos Deputados, quando
o PT foi humilhado por Eduardo Cunha.
Não deixa de ser inacreditável que o mesmo movimento, o de agora
vitaminar o PL de Kassab, tenha voltado a ocorrer no meio das
negociações para tentar salvar o mandato de Dilma.
LISTA DE PROBLEMAS
A lista de problemas atribuídos à inabilidade de Mercadante só fez
crescer, passando pelas respostas aos protestos contra Dilma e a
ingerência na área conflagrada área econômica do governo ao lado do
também "desenvolvimentista" Nelson Barbosa (Planejamento), em oposição
ao "fiscalista" Joaquim Levy (Fazenda).
O erro fatal foi a alienação do vice-presidente, Michel Temer (PMDB).
Herdeiro constitucional no caso de um impeachment, Temer foi primeiro
elevado à condição de negociador com o Congresso, só para ver seu poder
ser esvaziado pelos "nãos" da Casa Civil. Deu no que deu: o vice hoje é
uma figura alienígena no centro do governo, e a reforma ministerial como
está sendo desenhada poderá até agradá-lo, mas é altamente improvável
que o traga para o lado de Dilma novamente.
Isso é péssima notícia quando todo o eventual curso de um processo de
impedimento está nas mãos do PMDB de Temer, Renan Calheiros (Senado) e
Cunha. O presidente da Câmara é o pai do rito, e mesmo tendo sido
alvejado de forma decisiva pela Lava Jato, mantém gordura política a
ponto de ver nomes ligados a si como ministeriáveis. Tudo contra o
impeachment.
Não será sentida a ausência de Renato Janine Ribeiro, ministro da
Educação que saiu da academia pró-PT e cheia de autoelogios (era
"professor de ética", afinal, piada pronta no governo federal) para uma
das pastas mais importantes do país. Não mostrou a que veio, com exceção
de uma prolífica produção de posts de Facebook, inclusive sobre seu
estado civil. Na prática, o pessoal de Mercadante ainda mandava no
ministério, e isso, somado à inapetência gerencial de Janine, fizeram o
setor paralisar neste ano.
O resto da reforma vai sendo alinhavado com seu fim último, o controle
da ameaça congressual contra o mandato de Dilma. Pode dar certo
momentaneamente, mas é bom frisar que o Tribunal de Contas da União
ainda nem entregou seu parecer que irá rejeitar as contas da presidente e
apontar violações de responsabilidade fiscal. A situação permanece
delicada para o Planalto.
extraídaderota2014blogspot
0 comments:
Postar um comentário