editorial da Folha de São Paulo
Deflagrada há pouco mais de um ano e meio, a Operação Lava Jato, da
Polícia Federal, alcançou dimensões inimagináveis à época de seus
primeiros movimentos.
A partir dos negócios de uma rede de doleiros, da qual fazia parte uma
prosaica casa de câmbio instalada em um posto de gasolina brasiliense,
chegou-se, sem exagero retórico, à maior investigação de corrupção da
história do país.
Só em acordos com envolvidos confessos no esquema de pagamento de
propinas revelado na Petrobras, R$ 1,8 bilhão será devolvido aos cofres
públicos, segundo cálculo de agosto.
As condenações iniciais já passam de 40, cifra que ainda não abarca a
portentosa lista de empresários e políticos –incluindo ministros de
Estado e os presidentes das duas Casas do Congresso– já mencionados
pelos delatores.
Sobre os casos debruça-se uma força-tarefa de 11 procuradores em atuação
na primeira instância da Justiça Federal do Paraná, além de algo como
60 policiais federais. Tal aparato investigativo gravita em torno do
juiz Sergio Moro, que granjeou merecida reputação pela severidade de
suas decisões.
Por tudo isso, causa compreensível inquietude a decisão –juridicamente
correta– tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de retirar das mãos
de Moro processos abertos na esteira da Lava Jato, em um sinal verde
para o desmembramento das apurações.
Os ministros concluíram não haver conexão entre o propinoduto da
Petrobras e o processo contra a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR),
ex-chefe da Casa Civil, suposta beneficiária de recursos desviados do
Ministério do Planejamento.
Por 8 votos a 2, e contra a posição do Ministério Público, o caso saiu
da alçada de Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF. Com isso, os
demais envolvidos na ação, sem foro privilegiado, passaram à Justiça de
São Paulo. O precedente criado anima boa parte dos demais atingidos pela
operação a tentar a sorte com outros juízes.
Prever as consequências do fatiamento da Lava Jato é tão difícil quanto
encontrar um plural para o substantivo composto que dá nome à operação.
Parecem precipitados, de todo modo, os temores de que os esforços feitos
até aqui sejam desperdiçados.
Haverá, decerto, atrasos nos procedimentos, a serem minimizados com
providências como a preparação de procuradores para atuar fora do Paraná
e o intercâmbio de policiais. Seria disseminada, assim, a visão de que
se deslinda uma teia de corrupção política sistêmica, não circunscrita a
uma estatal.
Do Judiciário, espera-se bom senso na futura transferência de processos.
O mero formalismo não deve tirar do Paraná, domicílio de doleiros das
primeiras prisões, o cerne do extraordinário trabalho desenvolvido desde
então.
extraídaderota2014blogspot





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