por Eliane Cantanhêde O Estado de São Paulo
Em meio a tantas crises, o Brasil vive algo como a volta dos que não
foram. Se Marina Silva respira aliviada e o tucano Aécio Neves diz que
agradece todos os dias ao seu anjo da guarda por ter se livrado do
desastre, tenta-se adivinhar o que se passa pela cabeça do
vice-presidente Michel Temer.
Todo
político, em todo lugar do mundo, delicia-se com os holofotes, só pensa
em vencer e tem um objetivo na vida: o poder. Uns até para melhorar sua
cidade, seu estado, seu país, o mundo. Outros disputam o poder pelo
poder. Outros tantos querem mesmo é garfar algum. Em qualquer caso, o
alvo maior de um político é a Presidência da República.
Isso,
evidentemente, é ainda mais forte nos vice-presidentes, em especial se
as coisas vão de mal a pior para os titulares e eles se veem ali na boca
de assumir o mandato, colocar a faixa e posar para a foto oficial. Mas
nem sempre esse passo rampa acima prenuncia o melhor dos mundos. Hoje,
parece o pior dos mundos.
Pelo
relato de amigos, Michel Temer até se posiciona para “não fugir às
responsabilidades”, mas está longe de parecer desesperado para sentar na
cadeira de Dilma Rousseff e esfregando as mãos de excitação para virar
presidente. Dizem, inclusive, que vez ou outra bate a insônia e até um
certo pânico: “E se?”
A
previsão é de recessão por dois anos consecutivos, pela primeira vez
desde 1930 e da “Grande Depressão” de 1929. A indústria vai ladeira
abaixo, a inflação passa dos 9%, os juros são de 14,25%, o dólar atingiu
o recorde de R$ 4,25 e o desemprego só cresce. Você gostaria de
presidir um país quando o mercado formal de trabalho cortou quase 1
milhão de vagas em 12 meses e o corte de agosto é o pior para o mês
desde 1995? Temer gostaria?
Os
movimentos sociais ligados ao PT se mostram cada vez mais
desconfortáveis e o próprio PT virou biruta de aeroporto, com o líder do
partido na Câmara defendendo a queda dos três ministros mais fortes, os
da Fazenda, Casa Civil e Justiça. Ou seja, o líder petista articula o
desmanche do governo. Se já é assim com o governo do PT, como seria numa
transição com Temer? Sem falar que Lula está ferido, mas continua
vivíssimo.
Temer,
assim, está numa posição semelhante à de Aécio, a de quase chegar lá,
mas dizer que é melhor não chegar (ou não ter chegado). Assim como o PT
fez história e chegou aos píncaros da glória fazendo oposição
sistemática a todo e qualquer governo, Aécio descobriu as delícias de se
livrar das obrigações do Executivo, criticar dia e noite o governo dos
outros e ainda ter tempo para a família.
O
mesmo vale para a senadora Ana Amélia, que perdeu o governo do Rio
Grande do Sul e assiste de camarote, ou do plenário, às agruras do
“vitorioso” José Ivo Sartori com a falta de dinheiro para tudo, as
greves e os processos na Justiça. Como vale para Jofran Frejat,
adversário de Rodrigo Rollemberg, que assumiu um DF destroçado pelo
antecessor Agnelo Queiroz e anuncia aumento de impostos, passagens de
ônibus e metrô, até do zoológico. Um inferno.
Pois
é, os vitoriosos sentem-se derrotados, os derrotados sentem-se no
mínimo aliviados. E Temer balança. Mas aqui vai o anticlímax: quem
conhece a política e sabe o quando o poder inebria aposta que, com
inferno ou sem inferno, com crise ou sem crise, Aécio e Marina adorariam
ter sido eleitos, Ana Amélia e Frejat adorariam assumir o Rio Grande do
Sul e o DF e os governadores Tarso Genro e Agnelo dariam a vida para
serem reeleitos. É da índole do político.
Não
depende de Temer, depende da história, da Justiça, do “baixo clero” do
PMDB, do Congresso e de um fator fundamental da política, o
“imponderável”, mas as articulações correm soltas e o fato é que, se
necessário, o vice está prontíssimo para assumir. A insônia e a angústia
dele ninguém vê, mas o programa de TV do PMDB todo mundo viu. Alguma
dúvida?
extraídaderota2014blogspot
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